quinta-feira, 26 de junho de 2014

Nem eu me demitia!



 Por um milhão e seiscentos mil euros oferecidos de bandeja para trabalhar só um bocadinho e muito de vez em quando, quem é que se demitia?

Até ficava mal.

Se ninguém se demite, porquê dar um mau exemplo?
Se Irrevogável – com estas coisas do novo Acordo da língua – passou a significar “ontem tive uma birra, mas hoje volto de pedra e cal”, como é que “não me demito”, não pode ter a significação que o palrador  muito bem entender?
Se o comentador não sai da televisão, porque é fotogénico, apesar de ter que vir a comentar – com a imparcialidade que se exige a um opinador televisivo – a sua própria ascensão ou queda; se o banqueiro diz que sai, não saindo;  se o corrupto saiu e não devia ter saido.
Se sair é pior que falecer, porque é que alguém com bom senso há-de querer sair seja lá de onde for?
Eu não saio da minha escola, que fechou, porque sou professor; eu não deixo de ir ao hospital apesar de não poder tratar os meus doentes com as terapêuticas que os poderiam salvar, mas que não tenho disponíveis, porque a administração recusa comprar; eu não deixo de estar desempregado, porque não posso estar empregado.
Não me demito e pronto! Vou ficar até estar todo encarquilhado, a cheirar a podre.

 

1 comentário:

  1. A pergunta que fica no ar é a de como é possível e achar-se normal, que num país onde o salário mínimo é 485€ por mês, ou seja líquido cerca 430€, haja um treinador da selecção que aufira anualmente 1 milhão e 600 mil euros, para além de prémios pelos bons resultados. O homem não se demite, porque é "pessoa de palavra" e defende o contrato. Quem devia ser demitido é quem faz tais contratos e que também ganha mais do que merece. Este país já não é um país. É o pinhal da Azambuja expandido. Se houvesse leis e justiça toda esta gente estaria presa.

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