Algarvia do Mundo
“Sou algarvia do mundo
Trago nas veias o sul / Meu sangue tem a cor mourisca
As mãos molhadas de azul / Do mar onde o homem se arrisca
Canto um fado corrido / E bailo com passo mandado
Arade na serra nascido / Meu peito por ele é banhado
Na Ria que chamam Formosa / Os homens cultivam seu pão
Amêndoa de flor tão airosa / Medronhos que caem ao chão
Quadra de Aleixo cantada / Escola de bem marear
Histórias de moura encantada / Na Ponta virada p’ró mar
Terra de gente com brio / Que meu coração faz bater
Fez pesca ao candeio no rio / De fome não sabe morrer
Sou algarvia do mundo / Eu canto com alma e com garra
Pois digo o que vai no fundo / De um povo que à vida se amarra”.
A música “Sou Algarvia do Mundo”, de Rui Eduardo Rocha e Luís Miguel Rebelo, interpretada pela voz autêntica da fadista Raquel Peters, merece um lugar de destaque não apenas pelo poder de evocar memórias, como também pela oportunidade de viver uma experiência por meio do cântico e da composição algarvia. Isso nos permite fechar os olhos, viajar pelo sul lusitano e, assim, vivenciar com a alma uma terra de criação, a sonância que nos conecta com as histórias e geografias de um povo que se amarra à vida.
“Trago nas
veias o sul” mostra a forte interação do tema com o lugar, bem como enfatiza a
importância da cultura local nas relações afetivas, o que contribui para os não
algarvios compreenderem os espaços transformados em destinos turísticos sem, no
entanto, mostrarmos que sua gente não perde o amor pela terra, o brilho do
olhar pela mourama encantada e pelos medronhos que caem ao chão. De certa
maneira, o viver se mantém atrelado às tradições da paisagem, do viver voltado para
o mar.
Por sua
vez, “Eu canto com alma e com garra” narra o sentimento e o orgulho de pertencer
ao lugar, ao salientar que a identificação é essencial para constituir e manter
o território. Com os versos da música apresentada, conquistamos maior
entendimento da relação do homem com o espaço vivido, isto é, os lugares onde a
identidade se manifesta a partir do “mar onde o homem se arrisca” e da
observação do Guadiana que corre suave. Dessa maneira, a música transmite as
essências do viver sem desperdiçar detalhes de um sul internacional e, ao mesmo
tempo, pertencente à literatura de Antônio Aleixo.
Escrever
sobre essa composição nos fez caminhar lentamente no tempo e rememorar fatos
importantes experienciados em terras algarvias. Entre os sabores que poderiam
ser exaltados estão os pescados do mercado de Olhão, o pão da aldeia do Rogil e
o pudim de molotof – esse último, inclusive, é facilmente encontrado na Feira
de Santa Iria, no Largo de São Francisco em Faro. Sendo assim, na bagagem da
memória ficam os momentos festivos, gastronômicos, viajantes e as passagens ilustres
marcadas como carimbos no passaporte, as quais são facilmente reativadas.
Nesse
contexto, entendemos que o tema de Rui Rocha e Luís Rebelo se expressa como elo
entre as paisagens do sul e sua gente, entre barlaventinos e sotaventinos. Essa
linguagem musical coopera com a toponímia regional que é sua marca maior e que
comparece como expressão de turismo e bem-viver.
Por fim, esperamos que os leitores deste texto – algarvios, músicos ou turistas (ou não) – se sintam motivados a conhecer e sentir a obra “Sou Algarvia do Mundo”. Com isso, poderão experienciar o Algarve em sua profunda especificidade que enriquece a alma viajante, cujo destino tem sua imagem contemporânea associada aos caminhos de cidades, aldeias, serras e praias carregadas de histórias e culturas.
Referência
FADOSDOFADO.BLOGSPOT. Sou Algarvia do Mundo. Letras de Fados. 2023. Disponível em: https://fadosdofado.blogspot.com/2010/10/sou-algarvia-do-mundo.html. Consulta realizada em 07 de Mar. de 2023.
Fonte da Matéria: https://www.mundolusiada.com.br/artigos/algarvia-do-mundo/
Poema e texto belíssimos
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