Não vale a pena insistirmos mais no retumbante momento político a que assistimos nestes últimos dias. O tempo encarregar-se-á de recolocar na sua trama a importância do mesmo. Tenho para mim que os políticos, de uma forma geral, subestimam o povo que os elegem. Muitas vezes estas contas saem-lhe alteradas. Mas também é verdade que, por vezes, isso não se passa e que o aforismo de que o povo tem a memória curta se mostra perfeitamente enlaçado.
Existe, portanto, outro Governo na República Portuguesa, embora o primeiro-ministro seja o mesmo. Com isto - e ajuntando a carta de Gaspar - há também uma assunção do fracasso da ação governativa destes dois anos. Na verdade, tanto Portas como Gaspar - adversários internos do conselho de ministros - convergem nessa análise derrotista. Conseguintemente, o paradigma narrativo de agora é novo e revolucionário, se tivermos obviamente em conta o que se finou. O tempo - anotem bem, dizia Gaspar - é de investimento, isto é, de recolocação da economia no lugar cimeiro do executivo. Por isso, Portas e Coelho reuniram horas a fio e desenharam uma nova orgânica de Governo. O titular das finanças, por exemplo, outrora a cargo do todo-poderoso Gaspar, passa agora para uma espécie de Barreto Xavier, o extraordinariamente visível secretário de estado da cultura. Maria Luís Albuquerque já demonstrou que se encaixa admiravelmente neste papel ao aceitar, simpática e descontraidamente, todo este rebuliço em redor da sua nomeação. Neste propósito, o mínimo sentido de Estado impunha que apresentasse, desde logo, a sua demissão ao primeiro-ministro.
Pelo contrário, Paulo Portas, outrora cirurgicamente desligado do núcleo duro governativo, mas dando sempre conta, aos jornalistas, do seu papel opositivo, é agora o novo Gaspar elevado a vice-primeiro-ministro, alegremente encarregado da economia, das negociações com a troika, da reforma do Estado, e de mais outras coisas de somenos importância. Grande Portas, que conseguiu ampliar a semântica do adjetivo irrevogável!
Perante isto, é legítimo considerar que a única opção acordável com o próprio regime democrático seja a antecipação das eleições legislativas. Com elas, os partidos terão a oportunidade de apresentar aos portugueses o seu modus operandi relativamente a uma série de construções relacionais com outras instituições, designadamente com a desgraçada troika. Mais do que isso, mostrarão qual o grau de consideração que o povo lhes merece. A este propósito, basta olharmos para a agora inenarrável campanha eleitoral de Passos Coelho de há dois anos para facilmente descortinarmos a elevada estima e consideração que tem pelo povo.
Nesta fotografia fica igualmente muito bem Paulo Portas.
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