sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

A vergonha da espécie


O número de “machos” que vê em cada mulher bem arranjada um convite para lhe saltarem para cima, que não têm escrúpulos em usar esse argumento para justificar o assédio e violações da autodeterminação da mulher não tem diminuído.

Aqui mesmo já vi escritos do mais nojento e indigno acerca do movimento das mulheres ofendidas que ganharam coragem para quebrar o silêncio.

Como há pouco se podia entender do que disse  o Dr. Fernando Rodrigues, no comentário a um lindo poema do prof. Tapadinhas, os homens que gostam DAS mulheres sabem respeitá-las; ao contrário, o mulherengo vê na testa de cada mulher o sexo a oferecer-se-lhe. Mas bastava olhar para os rituais de acasalamento do mundo selvagem, para ver que à fêmea é dado o direito de escolher o seu macho...

A Time escolheu as mulheres abusadas para “Figura do Ano”, com o título “The Silence Breakers”, depois de ver a multidão delas que, no hashtag # MeToo contaram as suas dolorosas histórias.
“When movie stars don´t know where to go, what hope his there for the rest of us”; pensavam aquelas que trabalham eu empregos modestos, quando começaram a ouvir as queixas das actrizes...

São trabalhadoras de hotéis, hospitais, universidades, instituições políticas, agricultura, indústria e comércio, desporto, enfim, uma multidão que vivia manietada pelo medo e agora pode desmascarar os seus agressores, por mais poder quer julguem possuír, alguns dos quais, a quem ainda resta um resquício de vergonha, já reconheceram o erro e pediram desculpa, depois de anos e anos a beneficiar do medo que incutiam às vítimas, medo da vergonha e de perderem o emprego, muitas vezes o sustento dos filhos.

Uma cantora como Taylor Swift é apalpada por um desses porcos, em contexto de trabalho, e apresenta queixa. O malandro nega e move-lhe um processo; ela, riquíssima e poderosa, contra ataca com outro processo e ganha a causa. No tribunal, perante as mentiras do agressor e ironia do advogado, não escolhe as palavras de indignação, o que lhe vale uma reprimenda, que naquele lugar há procedimentos a respeitar – dizem-lhe.
                                                     
“Why should I be polite ?” – Responde. “This man hadn´t considered any formalities when he assaulted me!”

No artigo que justifica a escolha, o editor chefe da Time, Edward Felsenthal, termina o escrito desta forma:
“For giving voice to open secrets, for moving whisper networks onto social networks, for pushing us all to stop accepting the unacceptable, the Silence Breakers are the 2017 Person of the Year”.


Amândio G. Martins

2 comentários:

  1. Como sou referenciado no texto do Amândio Martins, permito-me dizer duas coisinhas". Uma é para reafirmar o que penso ( e disse) sobre a MULHER. O segundo, em abono da verdade, é que julgo haver alguma "tralha" nas queixas algo serôdias de muitas dessas queixas. Passe a "caricatura", é como o caso da "Raríssimas" no cômputo geral das IPSS. Há sempre "maçã(s) podre(s)" mas o princípio é que vale.

    ResponderEliminar
  2. Uma perversidade que condena duplamente as vítimas é valorizar os oportunismos que porventura existam para desacreditá-las.Como disseram muitas das que se foram calando: Se até as estrelas de cinema não souberam como se libertar, quanto mais nós, que somos gente anónima"!

    ResponderEliminar

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.