sábado, 3 de setembro de 2022

De António Feijó - (1859 - 1917)

 

POESIA

(...) 

Debalde tento erguer as velhas esperanças

Aos páramos do céu alevantando os olhos...

Mas a razão baqueia entre parcéis e escolhos,

A consciência treme, a consciência hesita.

Não basta contemplar a abóbada infinita,

Não basta unicamente ouvir dizer que Deus

Habita na regiáo vastíssima dos céus.

Não basta compulsar os livros de Moisés,

Nem olhar como um crente os astros e as marés,

Ou saber que Israel passara o mar vermelho.

Não é suficiente a letra do Evangelho...

Para erguer a razão das trevas onde cai

Inflamem-se de novo as sarças do Sinai!

Que o saber alimente e eleve a inteligência!

Para tranquilizar a nossa consciência

Não basta simplesmente o que nos diz a fé:

O que ensinou Jesus e o que ensinou Mahomet!

 

Andam as religiões em contínua luta.

A fé encheu na Grécia a taça da cicuta,

Alevantou a cruz no cimo do Calvário.

E no doido furor de monstro sanguinário,

Para abafar a voz da ciência que troveja,

Encerrou Galileu nos cárceres da igreja;

E como um sacrifício ao Deus sombrio e fero

Mandou queimar João Huss e excomungou Lutero!

 

Vale mais do que a Bíblia e mais que o Alcorão

A radiosa luz duma constelação.

(...) 

 

Nota – Transcrito parcialmente por Amândio G. Martins

2 comentários:

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