Em crónica recente, João Miguel Tavares escreveu: “sendo que optar pela neutralidade, neste caso, é o mesmo que optar pelo lado de Putin”. Fez mal, porque não é verdade. Então, ele “anexa” a Putin os que, repudiando-lhe vivamente os actos e as palavras, não se identificam com o posicionamento dos que o enfrentam com sanções boomerang e com uma “bíblica” multiplicação das armas, sem olhar a consequências? O heroísmo e a superioridade dos nossos valores passaram a pesar assim tanto, depois do paulatino desprezo a que se votaram as inúmeras ocorrências em que a Carta das Nações Unidas foi ostensivamente rasgada? Bem sei que, das outras vezes, não foram os russos que o fizeram, nem isto, naturalmente, desculpabiliza os actos criminosos de Putin. Também sei que, “nesta altura do campeonato”, nos focalizamos por inteiro na tenebrosa visão da violenta agressão de um país por outro, nada mais interessando. Quando andei no liceu, vários professores de História me incentivaram a nunca esquecer as razões mediatas para as guerras, sem as quais a análise dos factos ficaria imensamente prejudicada pelo imediatismo das coisas. Este, está claro, toda a gente o vê.
Expresso - 30.09.2022 (Nota: este texto foi, inicialmente, enviado para o PÚBLICO, que o rejeitou; assim, o Autor adaptou-o para eventual publicação no Expresso, o que acabou por acontecer).
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