terça-feira, 6 de setembro de 2022

 

DEIXEI DE COMER ARROZ-DOCE


Quase sempre quando ia a Lisboa, costumava trazer arroz-doce (excelente) do bar do Mercado da Figueira, situado na praça com o mesmo nome. Além do bar, tinha talho, peixaria, mercearias, bebidas, frutas e legumes, etc. Enfim, um supermercado de grande utilidade situado na baixa, no coração de Lisboa.

Agora fechou (reabre amanhã ao lado do hotel, mas apenas talho e garrafeira). Sabem porquê? Para dar lugar a mais um hotel. Mais um, porque só na referida praça, vai abrir outro onde se situava a Pastelaria Suíça e no lado sul, já existe um.

Três hotéis, o supermercado fechou, e eu deixei de comer arroz-doce. Mas recuso, terminantemente, comida de plástico da omnipresente multinacional norte-americana e não só. Agora, até encontrar onde possa comprar arroz-doce, baba de camelo, ou toucinho do céu, sobremesas em casa, só fruta da época.

Vai-se a pandemia, regressa em força o turismo. E ainda bem! Mas quando se sacrifica tudo em seu nome, ainda Mal! É o comércio tradicional e os moradores de sempre, a darem lugar a hotéis, apartotéis, lojas de marca estrangeiras, cafés também de multinacionais onde as bebidas e o próprio café, são servidos em copos de plástico, com palhinhas de plástico, tudo de plástico. As nossas tradições usos e costumes, estão a esvair-se. Estamos a vender a alma ao diabo, em nome do sacrossanto turismo e da minoria que dele mais beneficia. Grande parte dela, estrangeira.

Uma coisa, o Governo ou a Câmara de Lisboa, deviam pôr cobro. Uma coisa que nos envergonha e dá um ar terceiro-mundista à nossa capital. Os grupos de indivíduos de determinada etnia, ali na baixa, da Praça do Comércio aos Restauradores a venderem “droga”. A incomodarem as pessoas, sobretudo estrangeiros, com aquela mistela.

Em zonas tradicionais de comércio; Rua dos Faqueiros, da Conceição, dos Douradores, são inúmeras lojas já fechadas. O reduzido movimento, poderá significar o mesmo resultado ainda, para outras

Claro que o turismo é importante para a economia e para o emprego. Mas ficarmos tão dependentes dele, pode ser muito mau. Aliás, como tantas outras atividades únicas.

Somos um país relativamente pequeno, mas muito diversificado. Com muito sol, belas praias, paisagens variadas e deslumbrantes. Também somos um povo afável e acolhedor, mas não devemos, por isso, cingir-nos quase apenas ao turismo. Não devemos descurar a nossa agricultura que também é e pode ser ainda mais variada, as pescas e outras potencialidades da nossa imensa Zona Económica Exclusiva. As nossas industrias de construção e reparação naval, construção de material ferroviário, como era a Sorefame, siderurgia, refinarias, que já tiveram uma significativa importância, não se devia recuperar o que fosse possível? Assim como apoiar os lanifícios e o calçado. E em vez da proliferação do fast food da estranja, nunca desprezar a nossa saborosíssima e rica gastronomia. Assim, para além de tanta coisa boa, talvez volte a encontrar facilmente, o nosso bom e tradicional arroz-doce.

Francisco Ramalho


Publicado hoje no jornal "O SETUBALENSE"



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