A QUESTÃO CENTRAL
Segundo a última edição da revista Forbes, 2/05/24, o número de bilionários é agora o maior de sempre: 2781. São mais 141 que em 2022. As suas fortunas somam 14,2 milhões de milhões de dólares. E cresceram só no último ano, 2 milhões de milhões de euros. Destes, 700 mil milhões correspondem ao aumento da riqueza dos 20 mais ricos. Na grande maioria, ligados à propriedade ou gestão de topo de multinacionais, que por sua vez registaram aumentos médios de lucros superiores a 50%. Segundo dados de janeiro deste ano, as cinco pessoas mais ricas do mundo mais do que duplicaram as suas fortunas desde 2020, ao ritmo de 15 milhões de dólares por hora.
Em consequência, no mesmo período, 5000 milhões de pessoas ficaram mais pobres. Em apenas dois anos, os salários de cerca de 800 milhões de trabalhadores perderam poder de compra face à inflação num valor estimado de 1,5 milhões de milhões de dólares, cerca de um mês de salário por cada trabalhador. Quase metade da população mundial(3,6 mil milhões) vive numa situação de pobreza auferindo menos de 6,85 dólares por dia. Destes, cerca de 700 milhões vivem em pobreza extrema, com menos de 2,13 dólares por dia, e 828 milhões vivem em situação de fome.
Em Portugal, em quatro anos, a família Amorim subiu 86 lugares na lista dos mais ricos do mundo. Só Fernanda Amorim tem uma fortuna estimada em 5,3 mil milhões de euros. Em 2023 os principais grupos económicos tiveram 25 milhões de euros de lucros por dia. Enquanto isso, três milhões de trabalhadores auferem menos de mil euros brutos por mês, 72% dos reformados vivem com pensões inferiores a 500 euros e cerca de dois milhões de portugueses estão em risco de pobreza ou de exclusão social.
É este o negro quadro em que o mundo se encontra. Mas não é uma fatalidade! É devido às políticas, na esmagadora maioria dos casos, de governos de partidos ditos socialistas ou trabalhistas, social-democratas ou democratas-cristãos. E é a desilusão que provocam, a principal causa da ascensão da extrema-direita
A imoral distribuição da riqueza é a questão central.
Cabe aos trabalhadores e aos povos, lutarem contra ela e contra a manipulação ideológica em que a gigantesca máquina mediática da minoria privilegiada, é essencial. Mas não só! Por exemplo, o futebol, também tem essa função. Não a modalidade em si, que é do agrado de tanta gente, mas o uso e o aproveitamento que dela fazem.
Vejamos o caso das grandes competições como a atual, em curso, os intermináveis tempos de antena que lhe dedicam. E, neste caso específico, como é público, o “pormenor” da estadia da nossa seleção: um complexo hoteleiro/desportivo com 150 quartos, salas para conferências, campo de treinos, um campo de ténis, ginásio, piscinas, lagos e um enorme jardim. Ao todo, são 18 hectares. Imaginem o preço disto tudo! Havia necessidade? Num país com as carências do nosso, onde milhares sobrevivem com donativos recolhidos por instituições de solidariedade social, não será uma imoralidade? Uma afronta?
Francisco Ramalho
Publicado hoje no jornal O SETUBALENSE
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