Na minha última viagem a Portugal,
especialmente à cidade de Loulé, no Algarve, fiz uma pausa para um café num
famoso local da Praça da República, nº 67, no Café Calcinha, ou, simplesmente,
Café do Poeta António Aleixo. Ao sentar-me a uma mesa na parte interior do
estabelecimento, fiz o meu pedido e, com a paciência de quem tem todo o tempo
do mundo, fui inundado por sensações, lembranças e sentimentos inevitáveis.
O prazer de estar
novamente nesse lugar fez-me sentir rico em experiências. A memória levou-me a
revisitar leituras e convívios pessoais, sem esquecer de celebrar o turismo em
Loulé e vivenciar com a alma uma terra de criação, sedução e tradição. Durante
essa pausa de viajante, recordei o tema “Fado das Amendoeiras”, de Ary dos
Santos e Fernando Tordo, interpretado por Carlos do Carmo.
Revisitar na memória essa
canção, enquanto olhava para o monumento de António Aleixo, fez-me reconhecer
que a viagem rompe a rotina quotidiana e nos conduz lentamente ao encontro dos
nossos desejos. Nesse hiato, sentar-me para um café foi também um exercício de
ócio que me permitiu deixar a música revelar, a partir da memória, as essências
do viver sem desperdiçar os detalhes de uma cidade algarvia que, ao mesmo
tempo, faz parte da literatura de António Aleixo; assim, a minha viagem não
perdeu o sentido do movimento.
De facto, a música, a
poesia de Aleixo e a xícara de café fizeram-me refletir que estamos sempre em
busca de (re)encontros marcantes, mesmo que sozinhos, e que a vida tem valor se
temos algo para contar ou uma nova emoção para viver. Estamos sempre à procura
de um café, de um bom livro para ler ou de uma viagem que nos surpreenda, para
não sentirmos falta de quem somos. Com isso, aprofundamo-nos em nós próprios,
sem medo das emoções.
As coisas são simples diante dos meus sonhos. Depois do breve café, sem vontade de partir, olhei para a xícara vazia na mesa em frente ao poeta; levantei-me, pois era necessário continuar a caminhada, com novos destinos para visitar e experienciar. E os outros turistas, ah… esses hão de amar ao visitar esta inspiradora cidade e o emblemático Café Calcinha.
Publicado por Jean Carlos Vieira Santos, Jornal A Voz de Loulé, Algarve (https://www.avozdeloule.com).
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