Do
voluntarismo
Não há coisa
melhor no mundo do que a boa vontade, com a qual se podem remover na vida todo
o tipo de empecilhos; mas nas sociedades ditas organizadas usa-se contra ela a
expressão “de boas intenções está o inferno cheio”…
O economista
Ricardo Reis, professor na London School of Economics conta, na sua coluna do
caderno Dinheiro Vivo, do JN, um episódio exemplar daquela minha introdução.
Diz ele que num parque público de Toronto, no Canadá, há um acesso em rampa íngreme
para o qual os habitantes reclamam da câmara uma escada que facilite às pessoas
lá chegar, mas esta autarquia não dispõe de imediato do montante para a obra,
que pode custar entre 50 a 100 mil euros.
Um reformado
inconformado decidiu reunir apoios e construír uma escada em madeira, que lhe
custou 375 euros e resolveu o problema dos frequentadores daquele parque, só
que a câmara bloqueou logo aquilo por ter sido construído à sua margem e
constituír um perigo para a segurança pública, o que revoltou os residentes.
Diz o
professor Ricardo Reis, na sua análise, que ambos os lados têm razão e os seus
argumentos são um bom exemplo do dilema entre privado e público. Por um lado, é
claro que as pessoas não podem construír acessos no espaço público quando e
como querem. Se cada um pudesse construír o que lhe apetecesse, não ia haver
uma rua ou passeio transitáveis; por outro lado, se uma comunidade se junta e
resolve um problema entre si, ainda bem.
Por um lado, é
claro que têm de existir regras de segurança
sobre como construír escadas na via pública; por outro lado, quando
essas regras levam a que o preço de qualquer obra pública custe 100 a 200 vezes
mais, também é claro que temos regras a mais cuja principal função é servir
grupos de interesse.
Por um lado,
aquele cidadão que meteu mãos à obra pode ter boas intenções, mas ao louvá-lo
estamos a abrir o precedente para qualquer aventureiro achar que ele é que sabe
resolver um problema público; por outro lado, a ineficácia de qualquer Estado
moderno, em que até resolver um problema simples demora anos e custa fortunas,
derrota qualquer visão idealista do Estado.
Amândio G.
Martins
Magnífico "dilema" para pensar! Por mim, tendo a pensar que um dos problemas são as pessoas que elegemos, que gostam pouco do Estado mas... estão "lá dentro". Aqui é estranho ser em Toronto...
ResponderEliminarOlhe, também me assaltou a mesma dúvida: no Canadá também se passam coisas destas...
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