quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Combatendo o Conformismo


A fraca participação cívica dos portugueses, explica em grande parte o baixo nível de vida que temos relativamente aos restantes europeus ocidentais.

Temos a obrigação de protestar, de afrontar, sempre que a nossa consciência nos convoque, mesmo que às vezes as palavras nos pareçam desproporcionadas, fruto do calor da nossa revolta.

Apontar o dedo aos inimigos da Verdade e da Justiça, para que não caiamos na resignação servil, de que nos fala Valter Hugo Mãe (noutro contexto).

É também para isso, ou antes, principalmente para isso, que serve este espaço.

Aquando da morte de Salvador Dalí (um inconformado), em 23 de Janeiro de 1985, escrevia Miguel Torga no seu Diário:

Morreu Salvador Dalí. Desaparece da cena do mundo um grande pintor e, sobretudo, um grande actor. E é este que vai fazer maior falta, porque a obra responde pela imortalidade do outro. O histrião, é que vazio o palco onde só ele sabia representar o difícil papel de indivíduo singular no seio de uma sociedade arregimentada. Conformados com as regras de trânsito humano impostas pelos fiscais da ordem, caminhamos tristemente arrebanhados, fiéis a um código de preconceitos, sem darmos conta sequer da nossa degradação. Havia contudo, entre nós uma excepção à regra. Um cabotino catalão com os seus bigodes insólitos, a sua bengala caducêutica, a sua lúcida loucura, que ao génio juntava a audácia subsersiva. E ficávamos ao mesmo tempo escandalizados e fascinados com as irreverências e descomedimentos de que fazia gala. Reagíamos à superfície ao despautério, mas, no fundo do nosso inconsciente, sabíamos que era aquele anarquista provocador que nos vingava e redimia.


José Valdigem



 

2 comentários:

  1. Caro José Valdigem,
    Deixe-me dar-lhe os parabéns pelo seu texto.
    Antes de mais, porque nos recordou três inconformados. Contando connosco, já somos cinco.
    Depois, porque lembrou que “este espaço”, como lhe chamou - e muito bem! -, serve principalmente (sublinhado) para reforçar a nossa participação cívica. Como? Pela via da dialéctica, prática superior da espécie humana, sempre em busca do rigor e da clareza, “da Verdade e da Justiça”, onde as inverdades, que, nos dias que correm, se chamam fake news, não devem ter lugar. Nisto, deveremos ser inflexíveis, porque, à nossa escala, somos opinião publicada, às vezes em órgãos da chamada comunicação social, o que só agrava as nossas responsabilidades.
    Buscar a verdade, mesmo que em coisas pequeninas, nunca poderá ser perda de tempo.

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    Respostas
    1. Obrigado José Rodrigues. O seu elogio faz-me sentir mais confiança.

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