segunda-feira, 19 de junho de 2023

Barbaridade que nada resolve

 

Desde miudo habituado a todo o tipo de animais do nosso ambiente, domésticos e selvagens, nunca me habituei a matá-los, mesmo quando era preciso fazê-lo para comer, e ainda hoje prefiro comprá-los já mortos por quem a isso se dedica do que matar em casa galinhas ou coelhos, que por isso mesmo nem temos cá em casa, que deve ser caso único na aldeia; lembro-me duma cena meio traumática quando, estando cá em férias, a minha mãe me pediu para lhe matar um coelho para o almoço e eu perguntei-lhe como, tendo-me dito que bastava dar-lhe uma pancada por detrás da cabeça e morria logo, mas a minha perícia foi tal que o bicho ficou ali a espirrar sangue e foi preciso ela acabar com ele.

 

Todavia, neste meio a que regressei, matam-se até animais selvagens que a lei protege, porque as pessoas ficam desesperadas com os prejuízos que causam, dado ser impossível defender deles as culturas em campo aberto, como no caso dos javalis e garranos, que quando entram numa propriedade cultivada não deixam coisa bonita de se ver, o que “autoriza” os prejudicados a dar cabo deles, seja de que forma for, porque a burocracia desmotiva o mais paciente, se quiser ser ressarcido dos danos.

 

Contou-me um dia destes um conterrâneo que uma raposa lhe rompeu a rede do galinheiro e matou as poedeiras todas, e quando de manhã encontrou aquela carnificina, a revolta foi tanto maior quanto, tendo-as contado, verificou que a “assassina” não comeu nem levou nenhuma; depois de pensar um pouco, ligou a um que sabia ser perito em armadilhas e, ao fim do dia, o rapaz apareceu-lhe para instalarem uma; e a coisa foi tão bem feita que logo na manhã seguinte encontrou a predadora debatendo-se para saír daquilo, tendo despejado sobre a cabeça do animal toda a raiva que tinha acumulada, uma atitude bárbara, disse-lhe eu, porque raposas há por aqui imensas e ele nem sabia se tinha sido aquela, sendo mais acertado reforçar o galinheiro, mas respondeu-me que, pelo menos aquela, já não lhe mata mais galinha nenhuma...

 

Amândio G. Martins

 

 

 

 

 

 

 

 

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