Como repositórios e manifestação da cultura popular um pouco por todo o país, desde sempre os grupos folclóricos foram muito acarinhados pelo povo minhoto, que seja onde for que esteja, mesmo longe da sua pátria, procura logo organizar-se e juntar-se em função dos seus costumes, danças e cantares, apresentando ”ranchos” muito bem estruturados em danças e trajes genuínos, representando orgulhosamente o país e a região de onde são oriundos.
O rancho folclórico da minha aldeia, Santa Marta de Serdedelo, ainda não existia no meu tempo de rapaz, sendo uma criação de gente da geração seguinte, que depressa pôde contar com o apoio de todos, inclusivé do município, que acarinha muito este tipo de organizações, não só com subsídios, mas facilitando-lhes espaço e abrigo na vila, no Largo de Camões onde, logo nos primeiros meses do ano, há um domingo para cada grupo poder fazer a sua feirinha com produtos caseiros para angariar fundos, que quando o tempo colabora é sempre um sucesso, que bem preciso é porque a sua manutenção não fica barata e a gente do folclore não cobra pelas suas actuações, correspondendo graciosamente aos pedidos de presença uns dos outros, quando organizam os seus festivais.
Procurando sempre colaborar com alguma coisa, quando chegava o momento da recolha de fundos, mas não estando a par da sua agenda, estranhei que ainda não tivessem aparecido, e um dia destes, encontrando o director perguntei-lhe quando seria a “feirinha”, que deve estar no fim a temporada para isso, e a resposta foi que não iam fazer, porque vão parar a sua actividade por tempo indefinido, por indisponibilidade de grande parte do pessoal jovem para responder às obrigações do grupo para com os seus congéneres, não porque os rapazes e raparigas estejam a fugir do folclore, que lhes está no sangue, mas porque os seus compromissos académicos, nas mais diversas universidades, lhes não deixam tempo suficiente para o grupo, e só com os mais “maduros” não dá.
A parte boa disto é saber-se que, embora só tantos anos depois, a nossa revolução democrática começa a mostrar resultados por todos os cantos do país, e onde havia tanta gente que nem a instrução básica tinha conseguido - lembro-me de ouvir que, no seu tempo, a minha mãe e as irmãs eram as únicas moças que sabiam ler e escrever, porque o meu avô, pessoa evoluída para o meio e a época, pagava a um casal letrado que para cá veio morar para as ensinar, porque nesse tempo nem ouviam falar em escola oficial - há hoje vários licenciados e muitos a caminho disso, nas mais diversas áreas do saber...
Amândio G. Martins
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