sábado, 23 de dezembro de 2023

Mistérios da cabeça da gente

 

O suicídio, embora seja um problema sério nalgumas zonas do país, em certas faixas etárias e classes profissionais, não o é muito por estes lados, e na minha aldeia, que me recorde, houve um caso, ainda no tempo da ditadura, de um velhote que engravidou uma deficiente e, quando o escândalo rebentou, desapareceu da terra, aparecendo morto algures longe daqui; de resto, houve algumas mortes inesperadas, por acidente de trabalho ou outros, mas nada de suicídios.

 

Daí a sensação de tragédia que neste momento vivemos, ainda mais nesta quadra, com a chocante notícia do suicídio de um rapaz vizinho aqui da rua; solteiro e não se lhe conhecendo problemas que justificassem tal extremo, a gente anda estupefacta com tão inesperada notícia, que eu só conheci quando perguntei por quem dobrava o sino porque, embora sendo vizinhos, raramente o via, a menos que andasse na tarefa de aparar arbustos e trepadeiras da vedação e ele passasse de carro, cumprimentando-nos apenas com um aceno.

 

Tendo sido emigrante em Andorra, onde trabalhou na indústria hoteleira, veio de lá quando herdou parte das muitas propriedades dos pais, uma delas aqui na rua, onde construíu uma vistosa vivenda; seguidamente, pôs em prática os seus conhecimentos de cozinha e contratou a exploração de um pequeno restaurante na vila, na frente do rio, que fazia funcionar com um irmão, aparentemente sem problemas, porque se davam muito bem e não se estranhava que fossem "solteirões", dado que o pai deles também tinha casado depois dos cinquenta, o que torna ainda mais difícil compreender que razões podem levar um homem assim, tanto quanto se sabe bem sucedido, ao extremo de terminar com a vida...

 

Amândio G. Martins

Sem comentários:

Enviar um comentário

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.