O país está cheio de comentadores
que pululam nos órgãos de comunicação, uns mais profissionais que outros, mas
aos quais são atribuídos méritos e conhecimentos que o povo comum não possui.
Suportados por títulos e diplomas que credenciam as suas opiniões, preenchem os
tempos de antena ou os espaços da comunicação escrita, alguns já há bastantes
anos, numa repetição de argumentos, que não trazem inovação em função da rápida
alteração dos comportamentos sociais e mais propriamente da relação entre
pessoas e instituições. Muitos vivem num mundo que está desfasado das realidades
e, porque delas distantes, falta-lhe a sensibilidade necessária para os
problemas das pessoas, porque defendem causas, números, ideologias onde as
pessoas são assessórios e por isso não tratam das coisas mesquinhas.
Dou dois ou três exemplos de
acontecimentos importantes que não despertaram a atenção dos formadores de
opinião.
Duas mulheres foram barbaramente
maltratadas num armazém de bebidas, em Angola, porque, segundo informação,
tentaram roubar um sabonete e duas garrafas de vinho. A forma cruel como foram
martirizadas é inconcebível de imaginar para qualquer ser humano normal. Para
lá das referências feitas nas TVs e jornais, não encontrei quaisquer posições
tomadas pelos tais educadores do povo.
Na Índia jovens mulheres foram
violadas por grupos de marginais, sendo num dos casos dentro de um transporte
público e tendo o motorista do autocarro feito parte do grupo dos agressores.
Na outra situação, de barbaridade idêntica, a vítima ficou tão maltratada que
não resistiu e acabou por falecer. As autoridades respectivas prenderam os
agressores, que serão julgados, e a opinião pública indiana pede a pena de
Talião. Mas isto nada diz aos nossos comentadores. Eu penso que há uma dose de
insensibilidade que perpassa as mentalidades destes homens e mulheres
inteligentes, que faz com que não estejam para aí virados, porque, na verdade,
estas situações desumanas, por regra, sucedem sempre com as camadas mais
pobres, a que felizmente não pertencem. Falo de casos concretos e, por favor, não
apodam isto de demagogia, porque não pertenço a grupos aos quais esta, às
vezes, serve os seus fins.
Como português, e é isso apenas
que me resta da minha efémera passagem pela vida, não posso aceitar a forma
como algumas notícias que referem o nosso país são redigidas, especialmente
quando tratam de números e de finanças. Assim, vejamos:
Um jornal de grande tiragem, referindo-se
a uma avaliação de uma agência de rating, dizia; “Portugal mantém nível de
lixo”. Todo o mundo leu, ninguém comentou a ofensa, nem o jornalista que, de
forma autoflagelante, redigiu a notícia, se incomodou. Portugal não é algo
inexpressivo. Portugal são as pessoas. E as pessoas nunca são lixo, mesmo que
não possam pagar as dívidas. E tudo isto é consequência da insensibilidade que
reina no dia-a-dia, que foi crescendo aos poucos, e que hoje é dominante.
Joaquim Carreira
Tapadinhas