Qualquer cidadão atento ao
dia-a-dia deste país, que mais parece estar em permanente tempo nublado tendente
a escurecer, está preocupado com o caminho que estamos a percorrer.
A economia portuguesa está
assente num barril que, em sentido figurado, podemos denominar de pólvora, que,
se eclodir, terá um enorme efeito destrutivo, porque é um perigoso composto de
dívidas incontroláveis.
A situação em que estamos
envolvidos, não saltou do nada para a eventual catástrofe, nem foram os
extraterrestres que a depositaram no nosso solo. Avolumou-se com passos
sucessivos sem sentido nem objectivo, estimulados por medidas descabeladas e
oportunistas, que muitos aplaudiram, e nem perante a tragédia são incapazes de
reconhecer os erros e emendá-los. São clínicos que erraram na medicação mas não
alteram as receitas.
Certas obras e medidas, que
consideraram de progressistas e modernas, e não falo só de estradas, estádios,
pavilhões e piscinas, sem préstimo suficiente e algumas ao abandono,
contribuíram para o estado de pré-falência em que a país se encontra, pois é
esta a situação da maioria das autarquias e empresas públicas. Sobre a dita
dívida soberana, como se o país neste momento tivesse alguma soberania, cresce
minuto a minuto e é o que todos conhecemos.
Ao acaso, de um molho, retiro
três decisões implementadas, todas elas relacionadas, que estão a contribuir
para a destruição da vida dos portugueses; O Programa Polis, a taxa de 23% no
IVA na restauração e o execrável IMI. O Programa Polis, que pretendia defender
as zonas históricas, serviu para desabitar essas partes das cidades e empurrar
os novos habitantes para as novas urbanizações periféricas. Num novo
ordenamento de trânsito, vedaram-se ruas inteiras ou alteraram-se os sentidos,
proibiu-se a circulação, matou-se o comércio, também desviado para os centros
comerciais, desertificaram-se as habitações. Na rua onde moro estão encerradas,
há mais ou menos tempo, à espera de arrendatários, 8 lojas, sendo 4 de
restauração. Não há cobrança dos 23% de IVA, e há desemprego para os eventuais
empregados e empresários. Casas desabitadas são mais de uma dezena. Os
senhorios que terão de pagar uma brutalidade de IMI, não terão qualquer
rendimento dos prédios e não têm esperança de novos contratos, pois alguns
espaços já estão vagos há anos.
Com medidas desumanas e
prepotentes têm vindo a destruir os postos de trabalho das pequenas empresas
que lutam contra a tirania do Governo. Agora, seguem-se os pequenos
proprietários na senda da programada destruição de bens imobiliários, que
tentam transferir custos para os inquilinos, quando os há, de uma parte do
esbulho a que Governo os submete.
Eu não sei se estes cérebros
iluminados se inspiraram na Arte de Furtar, obra atribuída ao Padre António
Vieira, mas nada aprenderam, porque furtar não é destruir.
(na Tribuna do PÚBLICO, 1-3-2013)
Joaquim Carreira Tapadinhas
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