quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A arte de destruir


Qualquer cidadão atento ao dia-a-dia deste país, que mais parece estar em permanente tempo nublado tendente a escurecer, está preocupado com o caminho que estamos a percorrer.



A economia portuguesa está assente num barril que, em sentido figurado, podemos denominar de pólvora, que, se eclodir, terá um enorme efeito destrutivo, porque é um perigoso composto de dívidas incontroláveis.
A situação em que estamos envolvidos, não saltou do nada para a eventual catástrofe, nem foram os extraterrestres que a depositaram no nosso solo. Avolumou-se com passos sucessivos sem sentido nem objectivo, estimulados por medidas descabeladas e oportunistas, que muitos aplaudiram, e nem perante a tragédia são incapazes de reconhecer os erros e emendá-los. São clínicos que erraram na medicação mas não alteram as receitas.
Certas obras e medidas, que consideraram de progressistas e modernas, e não falo só de estradas, estádios, pavilhões e piscinas, sem préstimo suficiente e algumas ao abandono, contribuíram para o estado de pré-falência em que a país se encontra, pois é esta a situação da maioria das autarquias e empresas públicas. Sobre a dita dívida soberana, como se o país neste momento tivesse alguma soberania, cresce minuto a minuto e é o que todos conhecemos.

Ao acaso, de um molho, retiro três decisões implementadas, todas elas relacionadas, que estão a contribuir para a destruição da vida dos portugueses; O Programa Polis, a taxa de 23% no IVA na restauração e o execrável IMI. O Programa Polis, que pretendia defender as zonas históricas, serviu para desabitar essas partes das cidades e empurrar os novos habitantes para as novas urbanizações periféricas. Num novo ordenamento de trânsito, vedaram-se ruas inteiras ou alteraram-se os sentidos, proibiu-se a circulação, matou-se o comércio, também desviado para os centros comerciais, desertificaram-se as habitações. Na rua onde moro estão encerradas, há mais ou menos tempo, à espera de arrendatários, 8 lojas, sendo 4 de restauração. Não há cobrança dos 23% de IVA, e há desemprego para os eventuais empregados e empresários. Casas desabitadas são mais de uma dezena. Os senhorios que terão de pagar uma brutalidade de IMI, não terão qualquer rendimento dos prédios e não têm esperança de novos contratos, pois alguns espaços já estão vagos há anos.
Com medidas desumanas e prepotentes têm vindo a destruir os postos de trabalho das pequenas empresas que lutam contra a tirania do Governo. Agora, seguem-se os pequenos proprietários na senda da programada destruição de bens imobiliários, que tentam transferir custos para os inquilinos, quando os há, de uma parte do esbulho a que Governo os submete.
Eu não sei se estes cérebros iluminados se inspiraram na Arte de Furtar, obra atribuída ao Padre António Vieira, mas nada aprenderam, porque furtar não é destruir.

(na Tribuna do PÚBLICO, 1-3-2013)

Joaquim Carreira Tapadinhas 

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