Dou dois ou três exemplos de
acontecimentos importantes que não despertaram a atenção dos formadores de
opinião.
Duas mulheres foram barbaramente
maltratadas num armazém de bebidas, em Angola, porque, segundo informação,
tentaram roubar um sabonete e duas garrafas de vinho. A forma cruel como foram
martirizadas é inconcebível de imaginar para qualquer ser humano normal. Para
lá das referências feitas nas TVs e jornais, não encontrei quaisquer posições
tomadas pelos tais educadores do povo.
Na Índia jovens mulheres foram
violadas por grupos de marginais, sendo num dos casos dentro de um transporte
público e tendo o motorista do autocarro feito parte do grupo dos agressores.
Na outra situação, de barbaridade idêntica, a vítima ficou tão maltratada que
não resistiu e acabou por falecer. As autoridades respectivas prenderam os
agressores, que serão julgados, e a opinião pública indiana pede a pena de
Talião. Mas isto nada diz aos nossos comentadores. Eu penso que há uma dose de
insensibilidade que perpassa as mentalidades destes homens e mulheres
inteligentes, que faz com que não estejam para aí virados, porque, na verdade,
estas situações desumanas, por regra, sucedem sempre com as camadas mais
pobres, a que felizmente não pertencem. Falo de casos concretos e, por favor, não
apodam isto de demagogia, porque não pertenço a grupos aos quais esta, às
vezes, serve os seus fins.
Como português, e é isso apenas
que me resta da minha efémera passagem pela vida, não posso aceitar a forma
como algumas notícias que referem o nosso país são redigidas, especialmente
quando tratam de números e de finanças. Assim, vejamos:
Um jornal de grande tiragem, referindo-se
a uma avaliação de uma agência de rating, dizia; “Portugal mantém nível de
lixo”. Todo o mundo leu, ninguém comentou a ofensa, nem o jornalista que, de
forma autoflagelante, redigiu a notícia, se incomodou. Portugal não é algo
inexpressivo. Portugal são as pessoas. E as pessoas nunca são lixo, mesmo que
não possam pagar as dívidas. E tudo isto é consequência da insensibilidade que
reina no dia-a-dia, que foi crescendo aos poucos, e que hoje é dominante.
Joaquim Carreira
Tapadinhas
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