Os pigmeus,
olham para o gigante, impregnados de terror. Assustados, não reflectem. Não se
interrogam, porque deixaram correr o tempo, e perderam a capacidade de analisar
os fenómenos do mundo que os insere. Pior. Deixaram aos outros o esforço de
pensar, de prever. Só que não havia outros. Todos éramos nós. Não havia nós e
os outros. Perderam, ou, naturalmente, nunca houve em muitos, e em número
suficiente, o espírito de aprofundar as causas e as coisas.
Tal
como o sangue circula no corpo e é necessário à vida, assim se pensou que a
moeda, o dinheiro, seria o alimento que daria substância à sociedade
instituída, ou, mais profundamente à actual civilização.
Sem
regras devidamente estruturadas, sem ética e sem moral, sem finalidades
sociais, as repúblicas, copiando-se sucessivamente, deixaram que grupos de
usurários comandassem a economia, e que retirassem dos empréstimos um proveito
superior ao aumento real da produção de bens.
Assim, não há volta a dar, e as dívidas (que
nos deixam muitas dúvidas da forma como foram constituídas) não podem ser
liquidadas.
Sem perceber a teia, por enganosas
facilidades, como quem compra a prestações no presente e empenha o futuro, a
Grécia, a Irlanda, a Islândia e Portugal, parecendo que a Espanha, a Bélgica, a
Itália, são os países que se seguem, todos entraram no sistema financeiro que
alimenta os espertos financiadores e coloniza os povos devedores. Mas virão
muitos mais, porque o circo ou o cerco estão montados. Estes agentes
financeiros criaram um clima de terror, que domina a política de cada país, que
deles se tornou dependente.
A
super-estrutura financeira, que se apossou da economia e que culminará com a
derrocada desta civilização, é tentacular e universal, e os departamentos FMI,
BCE e FEEF, são apenas apêndices dum polvo incontrolável.
Pode
dizer-se, porque é verdade, que em muitos países, os seus governantes, mais
realistas, honestos e competentes, não embarcaram nas situações dúbias
O estado
calamitoso de crise que é vivida nalguns países, que não podemos ignorar, ainda
que, no momento, explícita e aprofundadamente nos interesse Portugal, tem rendido
e continua a render, a muita gente duvidosa, escandalosos proveitos.
O
ser humano é falível, e quando a mediocridade comanda, os barcos têm mais probabilidades
de naufragar.
Devemos relembrar que o canto da sereia só não
hipnotizou Ulisses.
Joaquim Carreira Tapadinhas
(in “Crónicas da Lucidez – Novas Farpas”, Chiado Editora)
Grato por ter inserido este artigo no blogue. Escrito há anos, infelizmente, mantêm-se actual. Um abraço lusitano de gratidão.
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