Miguel Torga (escritor)
São Martinho da Anta.12.Agosto.1907-Coimbra.17.Jan.1995
Miguel
Torga, pseudónimo de Adolfo Correia da
Rocha, nasceu ainda no tempo da Monarquia em São Martinho da Anta, Vila Real. De
uma família de lavradores e almocreves transmontanos, a paisagem e a infância
rurais marcaram-no e determinaram o seu gosto de andarilho. Foi a fidelidade à
terra e a valores patriarcais que venceram tanto a tentação cosmopolita como a
tendência de intelectual estrangeirado.
Matriculado
em Lamego no Seminário acabaria por desistir por não querer seguir a carreira
eclesiástica e, adolescente, partiria para o Brasil, para casa de um tio onde
trabalhou na fazenda. Voltou cinco anos depois já preparado para prosseguir os
seus estudos que entretanto tinha iniciado ainda no Brasil por insistência do
seu tio que via nele um jovem inteligente. Terminado o liceu matriculou-se na
Faculdade de Medicina de Coimbra em 1928 onde tirou a especialidade de otorrino
estabelecendo-se depois em Coimbra, rendido aos seus encantos, atraído pelas
livrarias, cinema e tertúlias literárias numa cidade povoada por estudantes
universitários.
Desde
os seus tempos de juventude colaborou em várias revistas tendo ajudado a fundar
duas, o “Sinal” e “Manifesto”. Colaborou na “Presença” e “Revista
de Portugal” de Vitorino Nemésio. A
partir daqui decide confiar os seus pensamentos exclusivamente ao seu “Diário”
que, pela sua extensão (1941/1994) e dramática fundura humana, contém alguns
dos seus mais belos poemas. Depois de o “Diário”, “A criação do mundo” explora o filão autobiográfico e onde demonstra a
sua rebeldia conta as injustiças e abusos de poder tecendo críticas ao
franquismo que motivaram a sua prisão pelo regime. “Vindima” foi o seu único romance
que relata a vida dos vindimadores do Douro, obra de carácter bastante
humanista que relata a vida difícil das gentes do Douro e a sua labuta diária
de como que criação de um mundo esplendoroso merecedor de todos os louvores e
cânticos à sua beleza natural, moldada por mãos rudes mas humildes. O homem
como criador e propagador da vida e da natureza, o homem rural com quem Miguel
Torga teve um convívio permanente seja nos tempos de juventude seja mesmo enquanto
médico, esse homem e não uma qualquer divindade é que era merecedora dos
louvores de admiração. É no conto, o género mais próximo da poesia, que Miguel
Torga atinge um lugar cimeiro na Literatura Portuguesa. “Bichos”
(1940), “Contos da montanha” (1941), “Rua” (1942) e “Novos contos da montanha” (1942) ilustram o dom do autor par breves
histórias de temática moral. O mais ambicioso e mais orgânico livro de poesia “Poemas Ibéricos” (1952) tem um rasgo épico a que não será alheia a lição de a
“Mensagem” de Fernando Pessoa.
Mais
de uma vez candidato ao Nobel, prémio que nunca viria a ganhar, foi no entanto
merecedor de vários prémios tais como o Prémio Camões em 1989 e Prémio
Montaigne em 1981 e, em 1992, o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa
de Escritores.
É
uma das figuras mais marcantes da Literatura Portuguesa do Séc.XX.
Miguel Torga é um pensador filósofo que ao escrever vai sempre à raiz dos problemas, sejam eles sociais ou pessoais. A sua obra devia ser mais considerada e se houvesse gente esclarecida e influente no meio académico, devia haver mais que uma cadeira com o seu nome ( I - II), em cursos de letras, nas nossas universidades, a exemplo do que faz o Brasil aos seus escritores mais notáveis. Mas Portugal continua a ser todo dos pequeninos, e não só aquele pequeno parque em Coimbra assim denominado.
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