segunda-feira, 5 de agosto de 2013

"OS CORIFEUS DO REGIME SABEM DO QUE FALAM?", seg. J.J.Brandão Ferreira


                                    OS CORIFEUS DO REGIME SABEM DO QUE FALAM?
                                                                                                                                         27/7/1
“A Natureza é avara de homens superiores
e distribui com abundância homens medíocres”
Paul Bourget, para o Conde de Haussonville,
 citando Bonald.
Ouvimos, há poucos dias, o PM Passos Coelho fugir-lhe a boca para a verdade ao afirmar que precisamos de um governo de “união nacional” (o corifeu Marcelo veio, célere, opinar que preferia “unidade” em vez de “união”).
 De imediato outros corifeus vieram a terreiro polemizar que não gostavam da expressão, pois tal fazia-lhes lembrar a União Nacional, que designaram por partido único que servira de esteio ao “Estado Novo”.
 Estado Novo que, segundo o líder do principal partido da oposição, correspondia a um “dos períodos mais negros da nossa História”.
Em favor da curiosidade intelectual, até que gostaria de saber quais teriam sido os outros…
Néscio que sou, assaltaram-me dúvidas sobre o que tal frase quereria dizer e procurei na memória algumas questões que pudessem justificar tão categórica afirmação do jovem “Tó Zé”, que de seguro tem muito pouco – não parecendo haver no mercado ansiolíticos que lhe aplaquem as ânsias em que anda, para se meter em S. Bento.
Coitado dele e de nós…
Escarafunchando no baú da História – que, seguramente, a rapaziada das “Jotas” não tem tempo sequer de entreabrir – verifiquei que o “Estado Novo” se institucionalizou em 1933, com a aprovação, em plebiscito, de uma nova Constituição – consulta popular a que nenhuma outra Constituição portuguesa foi sujeita, até hoje, desde 1822, inclusive a de 1976 (cujo Parlamento onde se discutia, chegou a estar cercado por uma multidão ululante).
Antes, porém, (de 1933) tinha havido três “ditaduras”: a primeira apenas militar, entre 1926 e 28; depois uma ditadura financeira, de 1928 a 32, a que se seguiu uma ditadura política entre aquela data e o ano seguinte.
E porque terá havido uma ditadura militar?
Bom, talvez o Dr. (creio que o posso tratar assim) Seguro não acredite mas Lisboa, naquele tempo, parecia a Bagdad actual, com bombas a rebentar nas ruas e tudo!
É possível que os seus mestres políticos se tenham olvidado de lhe dizer, mas tal era resultado da “balbúrdia sangrenta”, como antevira Eça, em que se transformara a I República que, em 16 anos conheceu 45 governos, dezenas de golpes e contra golpes militares, com civis à mistura; assassinatos políticos q. b. (incluindo um PR e um PM), participação escusada na frente de batalha europeia da IGM e a maior conflitualidade político- social (sobretudo nas grandes cidades), que causou grande disrupção na vida económica e uma bancarrota crónica, nas finanças, em todo o mundo português.
 Por junto o país estava exangue e desqualificado em termos internacionais.
Este tinha sido o resultado trágico da implantação da República a qual, segundo os seus próceres iria trazer o paraíso a Portugal.
O Partido Republicano nasceu num ambiente liberal (e de liberalidade) e podia actuar e exprimir-se à sua vontade. Mas isso não lhe bastou: sem qualquer razão que o justificasse, tentou subverter a sociedade de então, atacou miseravelmente a Família Real e, ajudado por uma organização secreta de cariz violento (a Carbonária), provocou atentados, tentativas de golpe de estado e acabou manchado com o sangue do crime ignominioso, do regicídio.
Com estes antecedentes escabrosos não admira que a República tenha dado no que deu.
Porém, já antes a Monarquia Portuguesa, antiga de 700 anos, ficou ferida de morte, após a implantação do Liberalismo, em 1820; a expansão dos ideais da Revolução Francesa, o ataque à Igreja e três guerras civis.
Pior do que tudo isto, todavia, foi que a Nação Portuguesa ficou refém e foi pasto das sociedades secretas, maçónicas, que quebraram a unidade da Pátria e minaram os esteios da antiga nacionalidade.
 Enfim, os desastres e as barbaridades foram tais e tantas que se contam pelos dedos os portugueses que se aventuram pelas páginas do século XIX, que é aquele que a maior parte dos compêndios de História rapidamente saltam, sem embargo de merecer o mais demorado estudo e ponderação.
 Creio que não necessito ir mais atrás para enquadrar o que exponho.
Não sei como o Dr. Seguro – e o rebotalho esquerdoíde que por aí andou, anos a fio, a falar da “longa noite” – qualifica as épocas que muito pela rama descrevi, mas como chama ao Estado Novo um período negro da História de Portugal, por certo que este teria que ser pior do que aqueles; e, relativamente ao que vivemos, então nem se fala…
 Fomos, novamente, ao baú da História e saiu isto.
Em menos de dois anos o Dr. Salazar – de longe o principal obreiro e ideólogo do Estado Novo – equilibrou o orçamento (cujo “deficit” e dívida eram, apesar de tudo, menores do que actualmente), o qual nunca mais “descarrilou” até 1974, ano em que, salvo erro, o escudo era a sexta moeda mais forte do mundo; pagávamos a pronto; tínhamos o crédito que quiséssemos, sem haver “ratings” que nos tolhessem, havendo em cofre 50 milhões de contos em divisas e mais de 800 toneladas de ouro.
Tudo isto apesar da depressão de 1929; a crise da libra, de 1931; a Guerra Civil de Espanha (1936-39); a II GM (1939-45); 14 anos de operações militares em larga escala, em três teatros de operações diferentes (1961-74) - fora a questão da Índia (1954-61) e ainda devolvemos, em “cash”, em 1962, o pouco que usufruímos com o Plano Marshall…
Passemos à Economia.
Em 1926 a Economia, como tudo o resto, estava arrasada em todos os sectores. As próprias infraestruturas existentes – estradas, portos, caminhos - de - ferro, comunicações, transportes, etc., que tinham tido algum desenvolvimento no fim da Monarquia Constitucional, estavam num estado lastimoso. Algumas delas e outros serviços, tanto na Metrópole como no Ultramar, estavam em mãos estrangeiras, sobretudo inglesas.
 Aliás, o País estava, na altura, perfeitamente colonizado economicamente pela Inglaterra e, culturalmente, pela França. Também foi o “Estado Novo” que operou a “descolonização”…
Com as Finanças em ordem, deu-se início à recuperação das infraestruturas atrás apontadas – sem as quais a economia não se desenvolve – e cuidou-se do sector primário, pois este é a base de tudo o resto e é necessário dar de comer à população todos os dias…
Parece que os políticos, antepassados recentes do Sr. Seguro, se esqueceram destes pormenores!
Quando as infraestruturas estavam prontas, nomeadamente a energia, começou a implantar-se a indústria. E, pela 1ª vez desde Afonso Henriques, gizou-se um plano (chamado de fomento), a partir de 1951, devidamente estruturado, estendido no tempo e sustentado, que permitiu desenvolver o sector secundário e, acompanhando-o, o terciário.
Tal veio a desenvolver-se, sempre positivamente, não sendo sequer prejudicado pelas agressões ultramarinas a que nos sujeitaram.
Em 1973 crescia-se a 7% ao ano e em Angola e Moçambique era superior.
Não se fez tudo o que era preciso fazer, mas fez-se tudo com calma, com segurança, institucionalmente e com critério.
Não há notícias de escândalos com negociatas, “comissões” individuais ou para o partido, derrapagens, engenharias financeiras tipo “PPPs” ou outras.
A subversão comunista estava posta em sentido, as multinacionais não faziam o que queriam e o capital estrangeiro não mandava no Governo.
A corrupção, não sendo inexistente, era combatida e estava controlada.
Tudo isto se conseguiu porque havia ordem nas ruas, apesar das “quarteladas” se terem feito sentir até aos anos 40 – após o país ter estado, na prática, em guerra civil por mais de um século, não era fácil acabar com a agitação de um dia para o outro – e porque o governo governava sem ter que passar a vida em lutas político-partidárias estéreis e fratricidas.
Em termos diplomáticos o País retomou o seu normal entrosamento na vida internacional, não se limitando ao exercício das relações internacionais, como hoje maioritariamente acontece. Tinha interesses a defender e defendia-os.
Atingiu até, picos de excelência, nomeadamente durante a Guerra Civil de Espanha, na II GM, na entrada para a OTAN, para a EFTA e quanto ao acordo com a CEE; e na defesa das parcelas ultramarinas, que grande parte da comunidade internacional queria subtrair à soberania portuguesa.
Neste âmbito só há a lamentar a perda do Estado Português da Índia, e só ao fim de 14 anos de patifarias culminando com um deplorável uso da agressão militar. Mesmo aqui não se pode acusar os órgãos de soberania de qualquer comportamento antipatriótico.
Não consta ainda, que qualquer entidade estrangeira tenha interferido na condução da política nacional nem que o Governo Português alguma vez solicitasse ajuda seja a quem fosse.
Por acaso o Dr. Seguro imagina o FMI ou a “Troika” a passear-se no Terreiro do Paço no tempo da “outra senhora”?
Tentando perceber o imaginário do líder do PS, será que ele pensa que os tribunais há 50 anos levavam dez, para julgar um assunto simples, como agora acontece?
Que a Segurança Social é uma invenção pós abrilina?
Que os alunos e os pais dos mesmos batiam nos professores, como acontece um pouco por todo o país e não apenas na Musgueira?
Ou que muitos professores deviam era estar no lugar dos alunos e que muitos destes chegam ao 12º ano a saber menos do que eu sabia quando fiz a 4ª classe?
Pensará que as crianças ficavam fechadas em casa, ociosas a comer guloseimas e hidratos de carbono, frente a um visor qualquer, em vez de virem brincar para a rua com os amigos?
O Dr. Seguro pensará que se andasse a passear em meados dos anos 60, no auge da chamada revolução sexual, do movimento hippie, e da porcaria que representou o Maio de 68, em França, encontrava alguém a injectar-se nas ruas da Mouraria?
Pensará que os cuidados de saúde só passaram a existir depois de terem inventado o Serviço Nacional de saúde? (uma coisa, aliás, bem pensada, mas porque só agora começou a ser controlado e aferido, está em vias de colapsar).
Diga-me, Dr. Seguro, o que lhe vai na cabecinha para considerar, em qualquer área da sociedade, tais tempos como ominosos?
Ah, creio finalmente ter percebido um sussurro: o regime não era democrático!...
        (Continua)

          
                                              João J. Brandão Ferreira
                                                 Oficial Piloto Aviador
      
   
   
   

Sem comentários:

Enviar um comentário

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.