OS CORIFÉUS DO REGIME, SABEM DO QUE FALAM (CONCLUSÃO)
30/7/13
“Se aquilo que vais dizer vale tanto
como o silêncio, é
preferível,
ficares calado”.
Confúcio
De facto o Regime saído do Estado Novo (EN) não era,
sobretudo pelos parâmetros actuais, um regime democrático. Mas só com regimes
democráticos se governam países?
Apesar da “Doutrina
Corporativa” falar em “Democracia Orgânica – conceito, de resto, pouco e mal
explicado – o Professor Salazar nunca escondeu a sua pouca simpatia pela
Democracia.
Nisto reside uma primeira vantagem, nunca se fizeram passar
pelo que não eram…
Sem embargo, acreditará o Dr. Seguro que vivemos, hoje em dia,
em Democracia? E saberá caracterizar o seu conceito de Democracia? É que há
para aí muitos!
Vejamos se consigo estipendiar algumas ideias, para que
cheguem às cavidades auriculares do já quase ilustre beirão.
O conceito de Democracia, apesar de se falar nos gregos –
melhor dizendo, nos homens livres de Atenas – é moderno, apesar de já estar
velho.
Tem origem nos
“Iluministas” e “Racionalistas” do século XVIII (apesar de se poder recuar a
Sir Francis Bacon, 1561-1626, e à “Revolução Gloriosa”, de 1688) os quais
através da organização maçónica, desencadearam a 1ª Revolução com essa
inspiração, nas 13 colónias inglesas, na América, em 1776.
Seguiu-se a Revolução Francesa e a coisa nunca mais parou
até hoje, onde se tenta “vender” o produto a negroides de África;
revolucionários Latino- Americanos; asiáticos Budistas, Xintoístas e outros e,
aqui é que a porca tem torcido o rabo, a muçulmanos, para cuja maioria a
“Charia” tem primazia sobre tudo o mais.
E, claro, chocando gravemente com a Igreja Católica no plano
Teológico e Teleológico… Mas, enfim, esse é outro patamar de discussão.
Em síntese estas ideias pretenderam e pretendem, uniformizar
todas as religiões (tidas como grandes responsáveis pelas guerras – daí o
presumível conceito do “Grande Arquitecto do Universo”); colocar o Homem no
centro da vida (Andro centrismo), em detrimento de Deus (Teocentrismo) –
incitando até o Homem a igualar-se a Deus (“à sua imagem e semelhança”), quiçá
a desafia-lo.
Privilegia-se o indivíduo em detrimento da família, conceito
mais tarde alargado à Nação – que não é mais do que um conjunto de famílias,
unidas por um destino comum; substitui-se os Dez Mandamentos pela Declaração
Universal dos Direitos do Homem e o Direito Natural pelo direito do voto, como
fonte do Direito ao exercício do poder.
Ser Rei por “graça de Deus” era um método que dificilmente
podia ser condicionado; todavia se houver eleição, todo o processo pode ser
influenciado, ou manipulado. Daqui resultou o ataque ao Trono e ao Altar.
O Constitucionalismo não foi mais que uma solução
transitória: o Rei reinava mas não governava…
A situação clarificou-se (no mundo Ocidental), no fim do
século XIX princípio do XX: a República foi implantada, à bomba, no Sul da
Europa (por predominância católica) e por cooptação das Monarquias, no Centro e
Norte do mesmo Continente, já dominadas por Reformistas, Calvinistas e
Anglicanos.
Na Rússia foi-se mais longe, extremando-se a república
jacobina a que não se conseguiu opôr nenhum “Termidor”. Chamaram-lhe
“Comunismo” – também conhecido por “Democracia Popular”…
Pelo meio de tudo isto inventaram-se os Partidos Políticos:
o maior cancro social de todos os tempos!
Estes conceitos modernos – para a altura – só começaram a
vingar em Portugal, a partir de 1820, com o fim do “Absolutismo” e o início do
“Liberalismo”.
Ou seja, durante 700 anos Portugal governou-se sem qualquer
ideia de Democracia, como passou a ser entendida após a guilhotina ter feito
rolar mais cabeças em meia dúzia de anos, do que a Inquisição fogueou durante
três séculos.
E não parece que nos tenhamos governado pior.
Sobretudo através do modelo de municipalismo e de convocação
de Cortes, onde estavam representados os três braços do Reino e a participação
das “Corporações” na vida nacional, que se desenvolveu desde o início da I
Dinastia, constituía um modelo bem mais representativo, logo democrático,
daquele que temos nos dias que correm…
Foi pena que o Rei, Senhor D. Pedro II, tivesse pegado no
conceito absolutista – outra ideia importada – e acabado com a convocação de
Cortes, em 1698.
Quando o Rei, Senhor D. Miguel – considerado o último dos
absolutistas – quis recuperar e retomar a feliz concepção de Cortes - Gerais,
em 1828, já não foi a tempo.
Foi um erro da Dinastia de Bragança, mas é o que dá andar a
copiar modelos alheios…
Ora o EN, isto é, o Dr. Salazar – que pelos vistos era o
único que sabia o queria e para onde ia – “herdou” este estado de coisas e, ao
contrário de ser um perigoso ditador, revelou um insuperável equilíbrio e senso
político – além de um patriotismo e probidade indesmentíveis.
E foi um estadista, na verdadeira acepção do termo, como
poucos existiram em todo o mundo.
A Constituição de 1933 garantia todos os direitos básicos
aos cidadãos mas dispunha de “cláusulas” de segurança que limitavam, na prática,
um número considerável de liberdades públicas.
Tal não se deveu apenas ao espírito da época, caracterizado
por uma grande conflitualidade ideológica, onde as poucas democracias
existentes se confrontavam com o antagonismo irredutível entre comunistas e
fascismos, melhor dizendo entre regimes totalitários de esquerda e de direita
mas, sobretudo, à realidade portuguesa do último século.
Esta realidade tinha mostrado, à saciedade, o mau uso que as
forças políticas, consubstanciadas nos partidos políticos, tinham feito das
liberdades e liberalidades outorgadas, resultando na anarquização de toda a
vida política, económica, financeira e social da Nação e na total decadência da
Pátria.
A população estava farta (como agora) de tanta bagunça e
declínio e, por isso, aceitou maioritariamente e de boa mente, todas as
reformas efectuadas.
O EN acabou com os partidos – por culpa exclusiva do seu
péssimo comportamento – e tentou substituí-los, não por um partido único, mas
por uma organização onde pudessem germinar e ser discutidas as melhores opções
para o futuro do país, além de poder vir a ser um viveiro de quadros que
pudessem vir a desempenhar cargos políticos.
A ideia parecia boa embora a sua execução deixasse muito a
desejar.
A ideologia e organização do EN tinham muito a ver com a
Doutrina Social da Igreja e pretendia fazer uma síntese moderada, da livre
iniciativa capitalista com as preocupações sociais do Socialismo, e regular as
relações entre o capital e o trabalho através do entendimento, evitando as lutas
de classes. E era, assumidamente, nacionalista e patriota – hoje considerado
quase um crime…
Plasmou tudo isto no “Corporativismo”, tentando repescar a
tradição portuguesa, neste âmbito, fazendo representar em Camara própria, as
principais profissões e mesteres da sociedade portuguesa: as “Corporações”.
Esta foi outra ideia que entendemos cheia de potencial, mas
que nunca foi bem estruturada, acabando por ficar a meio caminho.
De tudo isto estavam excluídos comunistas e anarquistas
(estes com pouca expressão), por a sua essência ser maléfica e anti – nacional.
De facto o PCP, criado em 1921, era internacionalista e
obedecia a Moscovo como, dramaticamente, podemos constatar, às escâncaras, a
seguir ao 25 de Abril de 74. E só deixou de obedecer, porque Moscovo deixou
entretanto de ser comunista, passando a ser capital da Rússia e não da URSS.
Em síntese o PCP foi sempre um partido anti – nacional e o
seu comportamento cabe na designação de traidor à Pátria a que diz pertencer.
O EN criou duas instituições que foram fundamentais para a
sua defesa e especialmente odiosas para os putativos “democratas” e prosélitos
da pouca - vergonha reinante até então: a PIDE/DGS e a Censura/Exame Prévio.
Mas, também, neste caso não parecem ter qualquer razão.
Uma polícia/serviço secreto ou o que lhe queiram chamar, não
foi a 1ª vez que existiu. Desde os primeiros reis que existiram homens de mão
que defendessem a estrutura do Estado e a Nação de inimigos internos e externos.
Lembram-se, por ex. do episódio da Inês de Castro?
O melhor sistema montado até hoje terá sido aquele que
funcionou ao tempo do preclaro Rei, Senhor D. João II – não é por acaso que ele
é o patrono de todos os Serviços de Informação Nacionais. E que dizer do
Marquês de Pombal, do Intendente Pina Manique e da secreta da 1ª República, só
para citar estes?
Bom, a 1ª República então esmerou-se: existia uma
organização secreta, a Carbonária; grupos de caceteiros, como aquele chefiado
pelo “Pintor” e o “Ai-ó-Linda”; a “formiga-branca”, a “camioneta fantasma”,
etc. que faziam as maiores barbaridades, a maioria das quais à margem da lei…
Para além destes havia uma estrutura legal criada em 1918, a Polícia Preventiva
e a Polícia de Emigração que tiveram evolução vária.
Mas isto não parece preocupar o moço Seguro, possivelmente
por nunca ter ouvido falar, tão pouco os seus mais próximos.
Ora a PIDE, fundada em 22/10/1945 – com antecedentes na
PVDE, de 1933, que se seguiu a várias polícias criadas pela Ditadura Militar –
era uma organização formada por gente treinada, hierarquizada e que agia dentro
da lei em vigor.
A repressão fez-se sentir com mais virulência a partir do
início da Guerra Civil Espanhola, quando o perigo de comunização da Península
Ibérica foi real e quando se desenvolveram em Portugal várias formas de luta em
apoio da causa republicana, que tiveram os seus antecedentes na greve geral de
18/1/34 (com expoente na Marinha Grande) e culminou com uma revolta de sovietes
de marinheiros, em dois contra – torpedeiros (18/9/36) e no atentado à vida do
Chefe do Governo (4/7/37).
O perigo comunista era real e disso até se aperceberam –
tarde e a más horas – vários fundadores do PS, que desertaram das fileiras do
PCP…
Vivia-se então um clima de guerra que nunca mais acabou
(IIGM; Guerra Fria; Agressão a Goa, Damão, Diu, Angola, S. João Baptista de
Ajudá, Guiné, Moçambique, que configuraram as últimas campanhas ultramarinas),
em que a existência de “quintas colunas” era uma realidade a ter em conta como,
dolorosamente, muitos dos protagonistas do golpe militar florido a cravos, se
vieram a dar conta, no dia 26…
Esta ideologia incompetente e maléfica, de implementação e
exercício violento, foi responsável, à escala planetária de numerosas guerras,
barbaridades, extermínios, perseguições e desgraças sem fim, que vitimaram
centenas de milhões de seres vivos.
Comparar tudo isto e o perigo que tal representou até à
queda do muro de Berlim, em 1989, com os cerca de 40 mortos contabilizados, que
podem ser atribuídos a acção directa da PIDE/DGS (alguns por doença), é um
exercício de grande desonestidade intelectual.
Em 25/4/74 havia poucas dezenas de presos, não propriamente
por delito de opinião, mas por acções contra a segurança do Estado e com
direito a julgamento; no dia seguinte as prisões ficaram cheias de gente presa
sem culpa formada. Obviamente por pessoas que andavam nas ruas a dar vivas à
“Liberdade”…
Que durante 40 e tal anos muita gente sofreu e foi
perseguida, dadas as circunstâncias (haverá alguma época em que tal não tenha
sucedido?), é verdade; que terá havido excessos e injustiças, não duvido e,
alguns, até poderão dizer que bastava ter havido uma morte para que tal fosse
condenável. Será, mas tudo deve ser avaliado à luz da época e ninguém disse,
ainda, que a natureza humana é perfeita.
Todavia, pensem só por um momento, se fosse ao contrário…
E se o Dr. Seguro pensa que as coisas mudaram muito, um dia
que, por mera hipótese – sabe que nesta coisa de uma cabeça, um voto, tudo pode
acontecer – venha a ser PM, peça a minha “ficha” ao SIS e ao SIED, que eles
logo lha entregam.
Sobre a Censura pode-se argumentar do mesmo modo, com uma
agravante: agora é pior.
No tempo do EN havia uma vantagem substancial, a censura era
assumida, tinha rosto e tinha regras; agora não, há todo o tipo de censura e
ninguém a assume.
As pessoas, porém, vivem iludidas e contentes pois há,
supostamente, liberdade de expressão. Haverá mas serve de pouco, a não ser de
escape.
Paralelamente à liberdade de expressão existe a liberdade de
manipulação; o dilúvio das notícias e o livre curso da asneira. Este estado de
coisas representa um verdadeiro labirinto para o comum do cidadão!
E, na prática, para que serve, de per si, a liberdade de
expressão?
Antes de 1974 qualquer pequeno escândalo atingia foros de
cidade e as autoridades (incluindo os órgãos da Justiça), melhor ou pior, agiam
(o célebre caso dos “ballet rose”, ao contrário do que muitos pintam, é disto
um exemplo eloquente).
Pois nas últimas décadas, não passa um santo dia em que não
nos inundam com os maiores escândalos, corrupções e todo o tipo de coisas que
antigamente faziam corar de vergonha homens calejados pela vida.
E que consequências daqui derivam? Quase nada, praticamente
ninguém reage- pela habituação, pelo relativismo moral, pela falta de
referências éticas e cívicas e porque já não acreditam em nada.
Na melhor das hipóteses, há uns casos que caiem nas malhas
da Justiça e alguns chegam a tribunal. Creio não precisar demorar-me a dizer o
que isso, por norma, significa.
Por aqui me fico que a escrita vai longa. Fino-me com uma
pequena provocação:
Ao contrário do que foi afirmado o regime político que teve
origem no movimento militar ocorrido em 28/5/1926, conseguiu tirar a Nação, da
lama e o Estado, da sargeta onde se encontravam; o actual regime de que o Dr.
Seguro quer ser “prima - dona”, voltou a meter-nos lá.
Eu compreendo que tudo o que disse seja “areia de mais para
a camioneta” do actual líder do PS, mas talvez lhe sirva para pensar duas vezes
antes de fazer comentários sobre o que julga saber. Mas apenas julga.
A única coisa em que fica empatado, é que se fosse Seguro a
falar em “União Nacional”, a reacção do seu congénere - qual “Dupont et
Dupont”- Passos Coelho, seria a mesma.
Estamos conversados.
João
J. Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador
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