José
Afonso (músico)
1929.Agosto.02 – Aveiro, Portugal / 1987.Fev.23
Quando
os pais lhe deram o nome de José Manuel acrescido dos apelidos Cerqueira Afonso
dos Santos naturalmente nunca imaginariam que o seu filho seria reconhecido tão
só por Zeca Afonso para todo e qualquer português. Os seus primeiros anos até
1940 foram passados entre Angola, Moçambique e Portugal. Em 1949 ingressa no
Curso de Ciências Histórico Filosóficas da Faculdade de Letras de Coimbra.
Integra o Orfeão Académico da Universidade. Em 1953 nasce o seu primeiro filho
do casamento com Maria Amália e um ano depois nasceria Helena. Em 1956 edita o
primeiro EP “Fados de Coimbra”. Zeca gostava muito de tocar serenatas no seu
tempo de estudante e também de cantar em colectividades e festas populares. Apesar
das dificuldades financeiras, conclui o curso em 1963. Entre 1955 e 1957 dá
aulas em diversos locais do país. Em 1958 vê-se obrigado a enviar os filhos
para Moçambique para juntos dos seus avós. Entre 1964 e 1967 Zeca está em
Moçambique onde reencontra os filhos e onde nasce a sua filha Joana da sua nova
relação com Zélia. Em 1967, já de regresso a Portugal e depois de uma grave
crise de saúde, é expulso do ensino oficial. Será depois convidado para aderir
ao PCP. Vive de explicações que vai dando e de alguns concertos onde canta e
toca. Em 1970 nasce o seu quarto filho, Pedro. José Afonso morreu no dia 23 de Fevereiro de 1987,
no Hospital de Setúbal.
Zeca Afonso foi um compositor e músico
de enorme valor. Iniciado nos fados e Coimbra teve na música tradicional
portuguesa e na música dita de intervenção um lugar muito importante. Editou
inúmeros discos muitos deles gravados em estúdios no estrangeiro: “Traz outro
amigo também” (1970) foi gravado em Londres, “Cantigas de Maio” (1971) em Paris
tal como “Venham mais cinco” (1973), “Eu vou ser como a Toupeira” (1972) foi
gravado em Madrid. Recebeu alguns prémios pela sua obra discográfica, tendo em 21 de Março de 1970, a Casa da Imprensa atribuído o Prémio de Honra pela
«alta qualidade da sua obra artística como autor e intérprete e pela decisiva
influência que exerce em todo o movimento de renovação da música ligeira
portuguesa». Apesar do reconhecimento público pelo compositor e cantor não
deixou de sentir o sabor amargo da prisão em 1973 onde esteve cerca 20 dias,
preso pela PIDE por razões políticas. Mesmo assim a 29 de Março de 1974, o
Coliseu, em Lisboa, encheu-se para ouvir Zeca Afonso e Adriano Correia de
Oliveira, José Jorge Letria, Manuel Freire, José Barata Moura, Fernando Tordo e
outros, que terminam a sessão com «Grândola, Vila Morena». Militares do MFA
estão entre a assistência e escolhem «Grândola» para senha da Revolução. Depois
da revolução de Abril participará activamente no PREC ao lado dos movimentos de
esquerda e extrema-esquerda. Dará o seu contributo e apoio nas duas campanhas
de Otelo à presidência da República e em 1986, num dos seus últimos manifestos
políticos, apoia Maria de Lurdes Pintassilgo, na sua candidatura presidencial.
A Ordem da Liberdade foi-lhe atribuída por duas vezes. Em vida recusou e
postumamente a sua mulher Zélia também a recusou das mãos de Mário Soares. No
dia do seu funeral assistiram cerca de trinta mil pessoas ao cortejo fúnebre.
A sua música perdurará em todos
aqueles que amam a Liberdade.
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