Tomem
arsénico
O médico
Joaquim Guilherme Gomes Coelho nasceu e morreu no Porto, com a curta idade de
32 anos; e é impressionante que em tão pouco tempo de vida tenha podido, além
de formar-se em medicina escrever, com o pseudónimo de Júlio Dinis, vários
romances que a todos achei deliciosos.
Tirando “Uma
Família Inglesa”, os restantes são de temática rural, para os quais se terá
inspirado naqueles períodos de vilegiatura a que a tuberculose o obrigava em
ambiente campestre, onde procurava a cura para aquela doença que acabou por lhe
tirar a vida.
De “As
Pupilas do Senhor Reitor” ficou-me, desde muito novo, uma cena impagável
interpretada pelo grande actor António Silva no papel do merceeiro “João da
esquina”, quando o jóvem médico filho do lavrador “José das Dornas” teve a
imprudência de lhe descrever a composição de determinado medicamento que lhe
prescrevia, cujo elemento principal era arsénico.
“Arsénico! O
senhor quer que eu tome arsénico?” – exclamava “João da esquina”. Para acalmar
o homem, o jóvem “Daniel das Dornas” dizia-lhe que o arsénico era muito usado
na Áustria na ração dos cavalos, para lhes tornar o pêlo mais luzidio; e em
certa região da Alemanha as raparigas também o tomavam para conservar o aspecto
jóvem.
“Pois que se
regalem”- desabafava “João da esquina”, furibundo. Mas Teresa, mulher de João,
muito empenhada em impingir ao jóvem médico a filha Chica, para ser agradável
ao rapaz insistia com o marido: “toma arsénico, homem, toma arsénico”.
Ocorreu-me
esta expressão de “Teresa da esquina” ao ver um dia destes o líder da Oposição,
desesperado, perante uma plateia atenta e entusiasmada como um mocho, servir-se
das desgraças que têm acontecido para exigir a demissão de meio mundo. “Toma
arsénico, homem, toma arsénico”…
Amândio G.
Martins
Sem comentários:
Enviar um comentário
Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.