António José Gaspar
Velho, grande mestre oleiro alentejano
Este texto pretende abordar as sensações e os
sentimentos além das impressões científicas anotadas durante a viagem de estudo
à Aldeia de São Pedro do Corval (Reguengos de Monsaraz), Alentejo, em 9 de
julho de 2014. O propósito principal foi coletar materiais para o trabalho
investigativo do pós-doutoramento em turismo desenvolvido na Universidade do
Algarve, Portugal.
A partida ocorreu pela manhã na cidade de
Évora, com a máquina fotográfica e a mochila inseparáveis. Foi um desafio
chegar a esse território referência da arte oleira, principalmente para um
estrangeiro que se propôs a usar o transporte público alentejano sem saber o
tempo gasto da viagem, mas o esforço foi válido, por ser uma característica da
alma de quem nasceu para investigar e “turistar”.
Não foi necessário muito tempo no destino
para se sentir arrebatado pela viagem, seduzido pelos patrimônios edificados, a
arte oleira, o saber-fazer, o Museu da Olaria Patalim, o restaurante Adega do Cachete
e as pausas do cotidiano local, exibidas em ruas e vielas sob uma perspectiva
mais lenta, como se o dia fosse prolongar em uma exposição além das 24 horas. A
presença em terras alentejanas oportunizou conhecer o mestre Velhinho – António
José Gaspar Velho (5 de setembro de 1936 – 26 de fevereiro de 2019), um dos
momentos mais sublimes dessa jornada.
Nesse dia memorável, fui convidado para uma
visita à residência do referido artista, onde conheci sua olaria e criatividade,
lugar mais nobre de uma arte eternizada na memória deste viajante. Parei um
tempo na sua morada para admirar sua arte e a preciosa narrativa sobre aquela
paragem. Durante um desacelerar prazeroso, esse generoso oleiro nos presenteou
com peças que hoje se encontram bem guardadas no Brasil.
Pequenos jarros não decorados e sem
dedicatórias não os desvestem do imenso valor simbólico e identitário,
testemunhos de uma cultura por serem obras que conservam as marcas de um gênio
criativo da produção artesanal alentejana. Diante da experiência vivida, posso
afirmar que esse gesto proporcionou uma satisfação redobrada, pois obtivemos
objetos de valores vívidos e de um saber corvalense único.
Sem as viagens ou os intercâmbios, talvez não
fosse possível relatar a vida e a cultura do outro e dificilmente teríamos a
oportunidade de interpretar os significados de existências de ofícios
tradicionais, bem como as suas peças que compõem retratos da arte e imagem espontânea de territórios visitados.
Para nós, viajar é sinônimo de conhecimento, um caminhar que nos faz sentir
valiosos diante das infinitas possibilidades de ser um eterno turista aprendiz.
Assim, não consigo responder se este texto é
mais ou menos saudosista, mas todos tendemos a recordar as nossas viagens. Em
um tempo pretérito, talvez haja as melhores experiências, reveladas e
registradas nessas linhas pelo encontro com o mestre Velhinho na Aldeia de São
Pedro do Corval, uma referência que nos deixou sua arte para honrar a história do
referido destino.
Fonte:
https://www.mundolusiada.com.br/artigos/antonio-jose-gaspar-velho-um-grande-mestre-oleiro-alentejano/
Caro Jean Carlos: verifico, com agrado que temos algo em comum. Também eu nasci para "turistar", so´que agora, as minhas possibilidades são reduzidas. Adoro o Alentejo. Ainda há dias parei na Adega Velha, em Mourão, sobre a qual fiz um comentário no Tripadvisor em 29 de Agosto de 2016 com o título "Visita Obrigatória".
ResponderEliminarA alma alentejana faz-nos pensar se vale a pena tanta correria, em busca do "sucesso", por vezes atropelando tudo e todos. A felicidade às vezes está perfeitamente ao nosso alcance, nas coisas e atitudes mais simples do quotidiano.
Caro José Valdigem: viajar é redescobrir-se sempre, pena que essas possibilidades estão realmente reduzidas, mas espero que em breve possamos "turistar" novamente. Também adoro o Alentejo, tenho boas lembranças e impressões dessa terra, em especial esse encontro com o Mestre Velhinho, foi uma experiência única.
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