A “mão invisível” que, milagrosamente, conseguia a perfeita regulação dos mercados foi “descoberta” por Adam Smith num mundo que não é o de hoje. Já não há fronteiras físicas e aduaneiras como antigamente, e os bens que se transaccionam também já não são os mesmos, muitos deles meramente virtuais. As transformações operadas nas relações internacionais desde então proporcionaram a medrança de entidades económicas até níveis obscenos de acumulação de activos e de poder. Smith não poderia nunca imaginar a grandeza que muitas dessas entidades viriam a alcançar, com poderios que suplantam países de média dimensão.
A maximização do lucro, pedra angular do capitalismo, e, segundo alguns, o incentivo-motor das empresas e da criação de empregos, necessita da máxima liberdade de acção. Mas até Smith, especulo eu, pensaria hoje que, nas condições de funcionamento das sociedades actuais, deveriam ser impostos limites em certas áreas de interesse público, como o demonstram a pandemia e as alterações climáticas, os grandes problemas mundiais da actualidade. Impor aí, com legítima e robusta autoridade, regras de funcionamento distintas do delico-doce “laissez-faire”, é um dever que os poderes da soberania não podem alijar. As negligências, fraquezas e eventuais interesses encapotados de dirigentes políticos, em todo o mundo, deram no que agora vamos constatando, conhecidos que começam a ser alguns detalhes das negociações estatais com as poderosas companhias farmacêuticas produtoras das vacinas anti-covid. Empresas que, não esqueçamos, investiram muito na investigação científica, mas sempre com a magnânima ajuda dos Estados.
Público - 26.09.2021
Quem assim escreve, não é pêco.
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