A SELVA AMERICANA
Os mortos civis na
Faixa de Gaza e na Cisjordânia, são já quase 20 mil. O dobro dos
da guerra na Ucrânia. A cidade de Gaza está já mais destruída que
qualquer cidade alemã depois da Segunda Guerra Mundial. Homens,
mulheres e crianças, morrem sob a metralha, debaixo de ruínas, por
falta de tratamento e até de fome. Se o mundo está chocado,
imagine-se quem vê morrer, muitas vezes nos seus braços sem
qualquer socorro médico ou debaixo de escombros, filhos, pais,
irmãos ou amigos. Imagine-se o sofrimento atroz daquele povo. Que
sentimentos tudo isso gera?
E diz Netanyahu que
quer erradicar o Hamas...
Com a formação do
Estado de Israel há mais de 70 anos, centenas de milhar de
palestinianos foram expulsos das suas terras. Israel, com total
impunidade, sempre desrespeitou o direito internacional. Criou
colonatos considerados ilegais pela ONU, onde vivem cerca de um
milhão de israelitas, usurpou recursos naturais, prende civis
palestinianos sem processo judicial, criou um sistema de apartheid.
A resolução 181 da
Assembleia Geral da ONU, aprovada em 1947, estabelecia a criação de
dois Estados. O de Israel e o da Palestina com capital em Jerusalém
Leste que poderia assegurar o regresso dos refugiados palestinianos.
Israel não aceitou
e nunca cumpriu as Resoluções da ONU.
O povo palestiniano
tem sido privado do seu sagrado direito à liberdade e à sua pátria.
Tem sido violentado e humilhado ao longo de todos estes anos.
Portanto, quem criou
e continua a criar condições para surgirem organizações com
algumas práticas, evidentemente, condenáveis?
Pois bem, a solução
como já vimos e como as diversas resoluções da ONU atestam, seria
a existência de dois Estados. Israel nunca aceitou e sempre
desrespeitou as decisões daquela que é a mais importante instância
mundial, porque sempre contou com o apoio da superpotência
americana.
Mesmo agora perante
a destruição e o massacre em curso, fazem ouvidos de mercador aos
apelos à paz do Papa, da Organização Mundial da Saúde, de milhões
que se manifestam por todo o mundo e do nosso compatriota António
Guterres que como Secretário-Geral da ONU tem desempenhado um papel
à altura do cargo, digno, correto e responsável.
Ao vetarem no
Conselho de Segurança da ONU e quase logo de seguida votando contra
na Assembleia-Geral propostas que propunham um cessar fogo
humanitário, que dizer do papel dos Estados Unidos da América no
mundo, quando 153 países votam a favor, 23 se abstêm e apenas 10,
onde se inclui Israel, votam contra?
Depois de todo o
longo historial de apoio a ditaduras, golpes de Estado, guerras com
participação direta ou indireta, e agora avalizando esta
barbaridade quase comparada ao holocausto nazi, não estão os EUA,
transformando o Direito Internacional na lei da selva? Com uma
diferença fundamental: é que na selva, os animais mais fortes matam
os mais fracos, não por desejo de domínio, por lucro e egoísmo.
Matam, por sobrevivência, para se alimentarem, sem qualquer maldade.
É a “lei” da selva, da Natureza.
Francisco Ramalho
Publicado hoje em "O Setubalense"