quarta-feira, 1 de maio de 2013

O logro


Vítor Gaspar afirmou “eu não fui eleito coisíssima nenhuma” em resposta a uma questão que Ana Drago lhe colocou na Comissão de Economia da Assembleia da República. Esta afirmação, feita naquele tom monocórdico e falho de emoção que aproxima o ministro das finanças de uma coisa parecida com uma pessoa, deixa a pensar aqueles que, como eu (como nós?), ainda acredita que o voto pode influenciar o que quer que seja.

António José Seguro pediu, no congresso do PS, uma maioria absoluta para governar. Fê-lo naquele seu jeito de rapazinho que toma banho todos os dias, limpa bem as orelhas e usa perfume convicto de que, após um governo do PSD haverá oportunidade para um outro do PS.
Juntando a afirmação de Gaspar e o pedido de Seguro fica a pairar uma questão para o secretário-geral dos socialistas: quem serão os que ele trará para o governo da nação que não terão sido eleitos para coisíssima nenhuma?

O logro consiste em fazer-nos acreditar que em eleições legislativas estamos a votar para escolher um primeiro-ministro. Se assim for, os deputados, em quem, de facto votamos, não passam de pormenores, importa apenas o chefe, o cabeçudo de cartaz, aquele que escolhe por nós quem nos irá governar e que não elegemos para coisíssima nenhuma. Quantos eleitores conheciam Vítor Gaspar antes de se ter tornado o figurão que agora decide os destinos da nação à sombra da esquálida figura política de Passos Coelho?

Uma maioria absoluta é um cheque em branco que passamos à turbamulta de personagens obscuras que se movem na sombra dos partidos. Seguro, Passos Coelho, Paulo Portas (?), esses sim, são os caciques, os candidatos a primeiro-ministro, os chefes de claque, os padrinhos da máfia que nos vai espoliando com o nosso beneplácito. E quem são os candidatos a ministro das finanças, da educação, da economia (haverá um ministério para a cultura?), quem será o ministro da saúde?

Vítor Gaspar terá muitos defeitos mas há uma qualidade que ninguém lhe pode negar; ele tem aquele dom de dizer o que lhe vai na alma que é atributo comum aos pobres de espírito e aos homens corajosos.

É tempo de exigirmos que aqueles que nos governam sejam por nós eleitos. Se assim não for, haverá sempre um frango eleito que vai nomear uma raposa para guardar a porta do galinheiro. Por muito que as galinhas cacarejem, acabarão por ser papadas.

Carta enviada à Directora do Público

2 comentários:

  1. Da forma como os partidos políticos funcionam, alimentando-se de clientelas políticas, que por sua vez os alimentam, a eleição de pessoas para cargos da administração não nos dá qualquer garantia de competência e honestidade. Todas as grandes falcatruas em que a país está metido o dedo, a mão e o corpo de muitos políticos eleitos estão lá metidos. Logo, o que precisamos, mas não temos, é de pessoas com formação cívica suficiente para nos governar e não para se governarem. Só que com a escola em que os nossos políticos são formados isso é quase impossível. A desumanidade entrou na arena e a Lei é a do salve-se quem puder.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Se a escola foi a escola " J ", que poderemos esperar!?

      Meninos formatados e em que os que mostrarem mais capacidades retoricas e oratórias irão ser os futuros primeiros ministros

      Eliminar

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.