quinta-feira, 3 de outubro de 2013

1 - Crónica do antigamente; 2 - Facto, fato e terno

Crónica do antigamente

Muita gente que leia esta pequena crónica, se tiver nascido, pelo menos, há três décadas, não saberá o que é uma trempe.
Hoje em dia, tal utilíssimo utensílio de cozinha passou a desuso.
Mas, nesses tempos idos, de extrema miséria, nem toda a dona de casa tinha uma peça de tal ‘quilate’.
Assim, na minha aldeia natal, viveram quatro irmãs que, quando casaram, a trempe, que era só uma, andava à vez, de casa em casa, para fazerem os fritos, pois como disse, nesses tempos, a fartura, que morreu logo à nascença, era irmã gémea da desgraça.
Para finalizar tão pequeno texto, direi que trempe é/era um utensílio de cozinha metálico, com três pés, sobre o qual se colocava uma sertã ou frigideira, ou simplesmente um tacho, afim de se cozinhar alimentos, frigindo-os.


Facto, fato e terno

Com a entrada em vigor do novo e controverso acordo ortográfico, quase todos os órgãos da comunicação social (e não apenas estes) começaram a usá-lo.
No entanto, tenho verificado (mas quem sou eu?) que nem sempre é bem aplicado, sobressaindo dessa má aplicação linguística o vocábulo ‘facto’, o qual tem dupla grafia: ‘fato’ para os falantes do Brasil e ‘facto’ para os falantes em Portugal.
Portanto, não é nada acertado que a comunicação social em Portugal use o vocábulo ‘fato’ em vez de ‘facto’, tal como não deve escrever/usar o vocábulo ‘terno’ como sinónimo de ‘fato’.
Exemplificando: a) – Em Portugal deve escrever-se assim a seguinte frase: o belo ‘fato’ que o senhor Silva usou ontem, deveu-se ao ‘facto’ de ter ido a um casamento.
b) – Já no Brasil, a mesma frase, deverá ser assim escrita: o belo ‘terno’ que o senhor Silva usou ontem, deveu-se ao ‘fato’ de ter ido a um casamento.
Ou, então, esta situação lexical algo confusa: estamos na presença de um confortável ‘terno’ de sofás, aonde estão sentados distintos cavalheiros vestindo ‘ternos’ novos, pelo ‘facto’ de terem de estar presentes numa cerimónia, pelo que vestiram os seus melhores ‘fatos’.
Estarei certo ou errado?

José Amaral

1 comentário:

  1. Se pelo facto de pelo fato podermos saber quem vai lá dentro ( e talvez não, pois quem vê fatos não vê corações nem mentalidades ).
    E nos tempos que correm o facto é que todos sabem tudo ( veja-se os nossos comentadores televisivos ) e provavelmente pouco sabem, mas vestem esse fato.
    Falta-lhes é a “ trempe “ que é aquilo que pode sustentar a panela, por ter pelo menos três pernas.
    As três pernas: Cultura, honestidade ( intelectual ) e sabedoria, vindo esta daqueles que só o tempo dá, porque tiveram e viveram no tempo da trempe.
    Quanto ao terno! Bom, aqui é preciso ter algum cuidado, pois terno também pode significar trambolhão.

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