quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Dói, dói muito!

Qualquer cidadão, lúcido e não arregimentado, interessado neste país e no que se passa no mundo, tem, com mais frequência que o desejável, ataques de desilusão. Não há só desgraças e infortúnios, mas os acontecimentos presenciados e relatados pelos media ocupam um espaço demasiado alongado. Um pouco na esteira dos crentes, de que há um Deus que orienta as suas vidas num caminho justo e correcto, também os governados esperam que os homens e as instituições, que têm os poderes da governação, sejam inteligentes e rectos nos seus percursos.

Eu, menos que um pigmeu, sou uma parte, ainda que ínfima, do meu país. Logo, ao criticá-lo, pelos erros que nele circulam, estou a autoflagelar-me. Como não sou egoísta, dói-me por mim e pelos homens meus irmãos, toda esta tragédia que está em cena, e que se avoluma cada dia que passa.
Isto é um enleio em que os nós estão enredados e não se desatam. Nada funciona bem, e os erros nunca ficam órfãos, porque não têm paternidade. Na auto proclamada Casa da Democracia, há anos que, pomposamente, se sucedem comissões e mais comissões para encontrar responsáveis por ilegalidades ou crimes contra o Estado, e delas nada mais resulta que o espectáculo da inutilidade. A acção da Assembleia desacredita-a e a todo o Estado de Direito. Esta última comissão, mais uma dos submarinos, tendo a presidi-la, inexplicavelmente, um deputado que esteve enredado no caso Portucale/Espirito Santo, havendo informações correntes sobre quem recebeu comissões, e mais comissões, tudo aos milhões, não encontrou responsáveis nem anormalidades no negócio.
Quanto às autarquias, a maioria empenhadas e mal dirigidas, continuam a oprimir os munícipes com taxas e impostos para suportar encargos, muitas vezes artificialmente criados, para manter clientelas políticas num esquema de nepotismo.
O triste espectáculo que os ministérios da Justiça e da Educação nos andam a proporcionar há demasiado tempo, é uma vergonha lamentável, que seria impensável, no século XXI, num país europeu.
A profissão de professor está manchada pela actuação do Governo e vai ser difícil de recuperar. Se o ministério não os respeita como cidadãos, como podem os professores serem respeitados pela população em geral.
Se a Justiça é tratada com tratos de polé, como pode merecer o respeito e o crédito dos cidadãos. A educação e a justiça são os grandes pilares da democracia. Se estas estão em crise, é o sistema que sofre e se desboroa. Se os alicerces estão fragilizados, mais dia, menos dia, o edifício irá ruir. Constatar isto, dói, dói muito, por mim, e por todos os outros cidadãos.
Joaquim Carreira Tapadinhas

1 comentário:

  1. Muito bem, professor!
    Adoro ser professora... mais fico muito triste e indignada com o que vejo fazer com a classe.

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