O amor é o “cagarra”...
”Que o nosso amor seja eterno enquanto durar”, dizia um
tropical poeta.
Estatísticas recentes mostram que as pessoas se casam cada
vez menos e divorciam cada vez mais, enquanto em todo mundo, homens e mulheres,
continuam a morrer de amores e por amor...
Alçada Baptista – que Deus o guarde – sustentava que
enquanto o casamento foi feito por interesse -
as pessoas casavam-se em função dos teres e haveres de cada uma – o
casamento era para a vida. Quando nasce o casamento por amor , com este como
único bem que os amantes possuem para trocar com o outro, acabando ele, ficam
sem nada; e aqui ocorre-me o poema do grande limiano António Feijó, “O amor e o
tempo”, de que deixo alguns versos.
Pela montanha alcantilada
Todos quatro em alegre companhia
O amor, o tempo, a minha amada
E eu subíamos um dia.
Da minha amada no gentil semblante
Já se viam indícios de cansaço;
O amor passáva-nos adiante
E o tempo acelerava o passo.
(...)
Volta-se o amor e diz com azedume:
“Tende paciência, amigos meus!
Eu sempre tive este costume
De fugir com o tempo...Adeus, Adeus!”
É hoje evidente que poucos possuem o espírito de sacrifício
para vencer a “montanha alcantilada”que a vida em comum constitui. Assim, não
querendo ficar logo à primeira presos a compromissos de “papel passado”, homens
e mulheres encetam uma espécie de
relações experimentais, para testar as afinidades, até ficarem seguros de que
se completam para ir em frente; só que, quando isso acontece, tem-se
constatado, começam a surgir os atritos onde antes nunca tinha havido problema.
A ideia que me ocorre para entender isto é que as pessoas,
na fase experimental, seja dito assim, se esforçam por agradar-se mutuamente;
depois de terem concluído que cada um é mesmo o que o outro sonhava e se unem a
sério, acomodam-se na rotina de uma relação utilitária, em que a mulher é
sempre a mais sacrificada, e às tantas até já nem sentem necessidade de ser
gentis um com o outro.
Ainda que mal comparado, há similitude com certo tipo de
trabalhadores que, no período experimental, para agradar a patrões e chefes, se
mostram aplicados e diligentes, mas quando se vêem nos quadros da empresa,
pouco a pouco se vão tornando relaxados e preguiçosos e um mau exemplo para os
restantes...
Amândio G. Martins
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