Shut up and
kiss me...
Na sua crónica “A língua que nos constrói”, José Eduardo
Agualusa compara o som de algumas línguas dizendo que, em francês, é possível
dizer até obscenidades como se fosse uma declaração de amor; pelo contrário,
não há como a brutal aspereza do alemão quando se pretende intimidar alguém, e
dá um exemplo:
Experimente gritar
“macht Ihnen etwas aus wenn ich rauche“ , enquanto arranha o ar com os
punhos e vai ver que o efeito é aterrador. A frase, no entanto, significa
simplesmente “importa-se que eu fume”?
E acrescenta: Desconfio que pouca gente teria levado Adolfo
Hitler a sério, com aquele bigode ridículo e a miserável figura de carteirista
sem sorte, se ele se exprimisse no repousado português do Alentejo. No entanto,
sempre que vejo o homenzinho, aos gritos, no esforço de cuspir arame farpado,
compreendo o vasto terror que inspirou.
“Ao sol dos trópicos, em Africa e no Brasil, a língua portuguesa
floresceu”, e recorre a uns versos da poetisa moçambicana Manuela de Sousa
Lobo:
“Alguém falou-me dos esquilos e das zebras/ que também que
já andam falar português/ talvez que história de mentiroso ou poeta/ mas até
que ia ser bom/ conhecer nossa língua florestando-se às riscas nos morfemas/
pastando devagarinho com a cauda felpuda se abanando/ Chei! Nem nunca vi/
advérbios no capim nos meus vinte e sete anos.”
A modelo norte-americana Hailey Baldwin, de vinte anos,
convidada no programa da CBS “The late night show”, revelou que falava
português, dado a família materna ser de origem brasileira. A coisa estava
animada e pediram-lhe que ensinasse ali algumas palavras da nossa língua, ao
que ela acedeu desta forma: “Cala a boca e me beija”! Feita a tradução,
resultou numa estrondosa gargalhada...
Amândio G. Martins
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