sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Shut up and kiss me...

Na sua crónica “A língua que nos constrói”, José Eduardo Agualusa compara o som de algumas línguas dizendo que, em francês, é possível dizer até obscenidades como se fosse uma declaração de amor; pelo contrário, não há como a brutal aspereza do alemão quando se pretende intimidar alguém, e dá um exemplo:

Experimente gritar  “macht Ihnen etwas aus wenn ich rauche“ , enquanto arranha o ar com os punhos e vai ver que o efeito é aterrador. A frase, no entanto, significa simplesmente “importa-se que eu fume”?

E acrescenta: Desconfio que pouca gente teria levado Adolfo Hitler a sério, com aquele bigode ridículo e a miserável figura de carteirista sem sorte, se ele se exprimisse no repousado português do Alentejo. No entanto, sempre que vejo o homenzinho, aos gritos, no esforço de cuspir arame farpado, compreendo o vasto terror que inspirou.

“Ao sol dos trópicos, em Africa e no Brasil, a língua portuguesa floresceu”, e recorre a uns versos da poetisa moçambicana Manuela de Sousa Lobo:

“Alguém falou-me dos esquilos e das zebras/ que também que já andam falar português/ talvez que história de mentiroso ou poeta/ mas até que ia ser bom/ conhecer nossa língua florestando-se às riscas nos morfemas/ pastando devagarinho com a cauda felpuda se abanando/ Chei! Nem nunca vi/ advérbios no capim nos meus vinte e sete anos.”

A modelo norte-americana Hailey Baldwin, de vinte anos, convidada no programa da CBS “The late night show”, revelou que falava português, dado a família materna ser de origem brasileira. A coisa estava animada e pediram-lhe que ensinasse ali algumas palavras da nossa língua, ao que ela acedeu desta forma: “Cala a boca e me beija”! Feita a tradução, resultou numa estrondosa gargalhada...


Amândio G. Martins

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