Hoje, data da "Revo...loção" de Abril de 74, dia em que
escrevo este lamento, uma vez que as horas que antecedem esta mágoa,
dediquei-as a secar as lágrimas, que o depois deste confuso e promíscuo
acontecimento veio a provocar em muitos de nós - Povo, para agora poder lavrar
neste terreno da escrita a crítica capaz de por a nu a hipocrisia e o cinismo
com que tal data é festejada. E não me venham com canções de embalar e com
cravos de embelezar farpelas e palcos parlamentares, que nada disso torna os
corações dos que sofrem, mais coloridos nem alegres. A data que se comemora
hoje, e que nos remete para a idade em que sonhamos cheios de esperança com o
amanhã, e que afinal se vem desde então a revelar um pesadelo, um sério
fracasso. É com certeza uma data especial para os que souberam e tiveram arte
e engenho para se desenrascarem, para os que se serviram do Estado, da Banca, e
de todas as suas Repartições e Autarquias, para os que tinham amigos e por isso
escaparam impunes à Justiça e à cadeia. Foi também um acontecimento que abriu
as portas dos oportunistas e medíocres que se travestiram de revolucionários,
de aderentes de última hora, e com tal habilidade e jogo de cintura e de rins,
tiraram proveito de tal marcha triunfal. Hoje, passados 42 anos de tentativas e
de ensaios para nos tirar da miséria em que vivíamos, de tentativas para nos
libertarem da fome, da desilusão, do desemprego, do analfabetismo, do saco às
costas a caminho das fronteiras, tudo são discursos de embalar, feitas as
contas e como balanço, entre mais pobres e mais ricos que o pós Abril deu
origem. Desde o regresso dos militares da guerra em África, os rapazes que
passaram à "peluda", nunca tiveram qualquer apoio e tiveram que regressar
à luta noutras terras para ganhar o pão e deles ninguém quis saber. E até hoje
muitos não conseguiram trabalho digno, decente, consentâneo. Tudo foi ocupado
pelos amigalhaços. Enquanto isso trataram de acalmar os chamados
"retornados", dando-lhes todo os apoios e benesses para que
viabilizassem a vida que tinham perdido e a que estavam habituados. E muito
bem. Hoje ninguém os ouve a reclamar por coisa nenhuma. A solução foi eficaz.
A vida é dos espertos activos e desenrascados. Mas para os rapazes que fizeram
a guerra nas ex-colónias, só houve um caminho - o da emigração. Agora passados
42 anos da "Revo...loção" de 74, aos novos juntam-se os velhos, para
retomarem o caminho da partida para terras aonde o pão é mais garantido, e lá
longe por tais terras, fazerem o seu Abril, sem o adereço do cravo ao peito, e
constituírem família fermentada com o aroma das rosas que o trabalho/emprego
permite libertar. Hoje, na data em que escrevo esta lamúria séria e grave, sei
bem quem herdou os bens da dita Revolução na madrugada que se mantém sombria
para muitos de nós, povo, e Alvorada reluzente para os mesmos de sempre, e que
vinham de ontem a que juntaram os filhos que agora a dirigem. De nada valeram
tantas reivindicações, marchas por direitos, maior educação académica, se todos
acabamos debaixo da ponte, de mochila ou de mala de cartão, na frustração, em
busca da luz que aqui nos foi e é negada, como promessa de diabos, que de nós
se apoderaram. Hoje dia 25 de Abril de 2016, já nem com água benta ou outra qualquer
"revolta loção", a Política prosseguida pelos dirigentes herdeiros da
oratória hipócrita e cínica apre(e)ndida nos partidos de onde saem para o
governo, nos liberta e salva da fantasia em que nos fez afundar entre o ferro e
o fogo, e nos prende em casa a curtir as mágoas por tanto desencanto enterrado
na lama do abandono.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.