Não devia ser preciso. Mas quem passa por essa
experiência, fitar de perto os refugiados que se amontoam na Grécia e outros
países, se tiver algo mais do que músculos no coração, há-de fatalmente
compreender o sofrimento a que aquelas pessoas, iguaizinhas a nós, foram sujeitas. Como nós
próprios, aliás, caso ventos revoltos se levantem em desbragadas fúrias, o que
não seria a primeira vez nesta “civilizada” Europa. Na visita que o Papa fez a
um campo de refugiados em Lesbos, devidamente acompanhado pelo líder espiritual
das Igrejas ortodoxas, patriarca de Constantinopla (Istambul, curiosamente!), e
do mais alto dignitário da Igreja Grega, também ortodoxa, ouviu-se Bartolomeu I vincar a necessidade de
olhar nos olhos esta gente, acrescentando que o mundo vai ser julgado pela
maneira como a tratou. Disto, não tenho tanta certeza, porque o mundo anda
demasiadamente ocupado com paraísos fiscais e acordos de deportação com a
Turquia, além de se ir divertindo a construir muros…
Post Scriptum – Em Dezembro passado,
tive a oportunidade (feliz por um lado, infeliz pelos outros lados todos) de
estar à porta do campo de refugiados de Eleonas, em Atenas. No mesmo dia, à
noite, deambulei pelo meio de algumas centenas de refugiados que se preparavam
para dormir, entre os canteiros e árvores da Praça Victoria, em Atenas, outro
campo, este “selvagem” e sem quaisquer condições de habitabilidade. À sua volta,
a vida dos restaurantes e dos transeuntes continuava, em perfeita tranquilidade.
Vi jovens e crianças, alguns jogando à bola como hoje fazem os meus netos. Por
essa altura, visitei o escritório de uma organização totalmente dedicada ao
problema dos refugiados, a Desmos (pode-se aceder ao seu site em
www.desmos.org).
Ganhei e cresci.
Como se não bastasse a desgraça que lhes caíu em cima, esta flagelada gente vê-se forçada a tentar sobreviver num mundo onde abundam os porcos, logo um animal de que foram educados a não gostar...
ResponderEliminar