Não me custa entender que ainda haja tantas pessoas que,
tendo vivido (n)o regime anterior, lamentem o “25 de Abril” e consequências.
Estão no seu direito. Se, à democracia, preferem a autocracia, o problema não é
meu. Já me causa alguns engulhos de compreensão que alguns deles pensem que, se
“nada” tivesse acontecido naquele dia, toda a nossa realidade se teria mantido
incólume: ainda tínhamos colónias para explorar, ouvíamos a Emissora Nacional e
a Renascença, víamos a RTP (em dois canais e a preto e branco?), líamos jornais
sujeitos a exame prévio, bebíamos spurcola e bagaço no café em que olhávamos em
redor (não fosse haver bufos encapotados). No meio de tanta “felicidade”, o
mundo haveria, com naturalidade e pela inércia, de nos impor regras
inconciliáveis com o atavismo das botas de elástico. Dizer convictamente que o
25 de Abril só nos trouxe desgraças é como pensar que os nossos filhos adultos são
ainda bebés e que, como já não o são, a culpa é só nossa, porque os deveríamos
ter impedido de crescer. Afinal, eram tão engraçados e deixaram de o ser. Viver
à moda do 24 de Abril já não é possível. Deo
gratias!
Público - 30.04.2016
Público - 30.04.2016
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