A situação do advogado amigo pessoal do PM, ter
sido encarregado por este, de tratar diversos assuntos relevantes do Estado, é
muito preocupante do ponto de vista da transparência democrática, tanto
reclamada por António Costa (AC) enquanto dirigente do PS na oposição. Em
política, e então sobretudo no governo do País, não basta ser sério, é preciso
parecê-lo. Mas mesmo dando de barato que AC e o seu amigo advogado são e
foram até aqui sérios nos negócios de Estado que trataram, fizeram uma grande trapalhada,
por três ordens de motivos.
Primeiro, é sabido que o Estado e a sua
Administração, têm milhares de juristas e advogados já contratados e pelo menos
tão ou até mais aptos que o amigo escolhido, e AC sempre advogou na oposição
que os governos da direita davam muito dinheiro a ganhar a consultores e
advogados externos.
Segundo, o advogado amigo, poderia ter sido nomeado adjunto,
chefe ou assessor do Gabinete do PM, e então com toda a transparência e
legalidade, representar o PM em quaisquer negociações.
Terceiro, o amigo nunca deveria ter sido contratado por ser
amigo. Como amigo, ficaria apenas bem no gabinete do PM, em que este poderia
invocar razões de confiança pessoal, dada a natureza do trabalho em gabinete
ministerial. Fora do gabinete do PM, a ser contratado, deveria ser por prévio
concurso público, para aferir da sua capacidade, competência nas tarefas em
causa e o preço das mesmas.
O PM foi pelo menos incompetente nesta matéria, e é estranho,
para dizer o mínimo, que as entidades privadas, abordadas por um mero advogado
sem mandato escrito, tenham cedido os seus segredos de negociação, assim sem
mais. Só em Portugal, isto é possível, na terra dos amiguinhos, Talvez o Engº
Sócrates tenha feito jurisprudência, ao declarar normal servir-se de milhões de
euros, mesmo emprestados (segundo reclama), de um amigo que antes havia
celebrado vultuosíssimos contratos com o Estado. O facto de ninguém da esquerda
(excepto um deputado do BE) ter protestado ou criticado esta situação bizarra,
diz muito da complacência que existe nas trapalhadas de esquerda. Fosse Passos
Coelho o "artista", não duvido que AC pediria a sua
imediata demissão, na AR e na PR.
Embora sem conhecer ainda os detalhes do contrato com Lacerda Machado, não posso deixar de partilhar alguma da crítica aqui exposta. No entanto, por dever de imparcialidade, gostaria de abordar este assunto sem o dissociar do famoso caso de António Borges, não obstante a disparidade dos valores em causa.
ResponderEliminarSr. Rodrigues, posso investigar, mas o Prof. A. Borges, foi oportunamente apresentado aos mídia, objecto de despacho do governo e (bem) remunerado, ab initio.
EliminarSr. Manuel Alentejano,
EliminarAceito o que diz. Aliás, reparará que afirmei partilhar alguma da sua crítica. Contudo, salvo melhor opinião, parece-me que as três ordens de motivos que invocou também se aplicam ao caso António Borges (em obediência ao rigor, conceda-me que substitua “amigo” por “mentor espiritual”).
Na questão da falta de mandato, estou plenamente de acordo.
Entretanto, esclareço já que, por princípio, sou frontalmente contra este tipo de contratações, exactamente pelo conteúdo do primeiro motivo que o senhor muito bem invocou, seja quem for a praticá-las. Ora, da leitura simples do seu texto, pode-se inferir que só António Costa fez contratações externas, o que, obviamente, não é verdade (veja-se Passos Coelho/António Borges). Por outro lado, misturar aqui este caso com um outro que, ao que tudo indica, não passa de um caso de polícia, pareceu-me ser um mero pretexto para utilizar a expressão “trapalhadas de esquerda”, correndo o risco de, na passada, estar a cometer um erro que é o de considerar Sócrates um homem de esquerda.
Melhores cumprimentos.
Na generalidade, concordo consigo. Quanto a Sócrates prefiro nem adjectivar. Mas de esquerda, nunca o foi, nem sabe o que isso significa. Salgado Zenha foi sério e de esquerda. Valeu-lhe de alguma coisa?
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