sexta-feira, 11 de agosto de 2023

A coragem da integridade

 

Dizem os registos históricos que Dionísio, não o mítico deus grego da vinha e do vinho, mas o tirano de Siracusa, não satisfeito com os louros de chefe militar vitorioso e de tirano político, queria também passar por poeta, para atraír para si uma admiração que não podia ser imposta pela força.

 

Convencido e susceptível a respeito dos seus talentos poéticos, aproveitou a presença do poeta Filóxeno, num dos muitos banquetes que dava, para lhe ler alguns dos seus pretensos poemas; depois, muito vaidoso, perguntou ao poeta o que pensava dos seus versos, mas este, como sempre fazem os homens inteiros, não esteve para o bajular, dizendo-lhe frontalmente que lhe faltavam, na poesia, os dotes que na guerra o tornaram famoso.

 

Este Dionísio ficou de tal modo irritado com a verticalidade do poeta que o mandou para trabalhos forçados, nas pedreiras de Siracusa; todavia, no dia seguinte, roído de remorsos, decidiu reparar a injustiça, mandando libertá-lo. Tempos mais tarde, por ocasião de outro banquete, voltou a pôr à prova o poeta, perguntando-lhe: “Que pensas tu agora dos meus novos poemas”? Mas aquilo era tão bom que o poeta, não lhe respondendo directamente, virou-se para os guardas e pediu-lhes que o levassem de novo para as pedreiras, atitude que acabou por provocar no tirano uma gargalhada de boa disposição, não repetindo a prepotência anterior...

 

Amândio G. Martins

 

 

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