quarta-feira, 2 de agosto de 2023

"Carabelas portuguesas"

 

É sabido que os ditadores Franco e Salazar se entendiam muito bem, desde logo porque eram ditadores, mas também porque professavam a mesma ideologia política e religiosa, o que os fazia cúmplices nas maldades praticadas contra os respectivos povos, levando a que muitos espanhóis, que escapavam da guerra civil, se não sentissem seguros na nossa terra, sobretudo se estivessem marcados pelo ferrete fascista de “rojos”.

 

Mas alguns ditos populares pouco simpáticos com que os dois povos se mimoseiam a propósito de nada são velhos, e assim como são anteriores aos ditadores, também não morreram com eles, mas o que sempre que é tempo de praia ouço todos os dias parece-me mais acintoso que os velhos provérbios; as correntes quentes que neste tempo de veraneio fazem as águas da Espanha mediterrânica atingir temperaturas altíssimas, trazem com elas chusmas de medusas, algumas enormes mas inofensivas, que chegam a pesar quarenta quilos, e outras, bastante mais pequenas, cuja picada é tão dolorosa que o simples sinal da sua presença põe em debandada toda a gente que a teme.

 

E é a este indesejado visitante que chamam “carabela portuguesa”, e o anúncio frequente da sua presença, em noticiários e comentários televisivos, “cuidadito con las carabelas portuguesas” nas praias tal e tal, desvia logo dessas zonas todos os que gostam de se atirar tranquilamente para a água; e não sei se sugestionado pelo que chamam ao tal bicho, quando pela televisão as mostram em grande plano, enfunadas, vejo-lhes bastantes semelhanças com as caravelas...

 

Amândio G. Martins

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