quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Presença consciente


O homem deve viver o presente. Conquanto viver o presente não implica a uma existência estática e sem horizontes ou desenraizada do princípio ou meio donde proveio.
Viver o presente implica numa problemática de passado e futuro, de tal forma, que viver é construir o amanhã com novas experiências, sem esquecer aproveitar os ensinamentos benéficos que nos legou o passado.
Está provado que só em sociedade o homem pode subsistir e que quanto mais equitativa ela for, mais progressista e humana será. Assim a actuação individual deve ter sempre em vista o bem comum e não um capricho particular ou a satisfação narcísica do indivíduo.
Este ideal de sobrepor o interesse do grupo aos interesses particulares, não procura despersonalizar o indivíduo, mas interessá-lo nos problemas sociais que o cercam e delimitam, tornando-o mais forte e responsável, para que não se sinta isolado num mundo cheio de solicitações pecaminosas e destrutivas.
O homem encontra no grupo o apoio que precisa para se realizar como elemento social útil e ao dar o seu contributo está a realizar realizando-se. Toda a iniciativa presente deve ser projectada num tempo futuro, pois se assim não for, podemos compará-la a um ovo não fecundado que, comparado ao fecundado, tem o mesmo aspecto mas valor e duração diferentes.
Os homens que lutam por amor ao próximo têm uma mística diferente e muito própria. Não procuram honrarias estéreis nem adulação das massas. Eles são conscientes da sua missão e não se desvanecem. Sabem o preço da vida e querem pagá-lo. Não estão no mundo para se servir mas para servir. São apenas homens, nada mais.
São lanternas indicando um novo caminho, quantas vezes incompreendido, quantas vezes ridicularizado, mas sempre o caminho por onde o Homem terá de passar.
A sociedade é vida e vida é projecção no futuro, mas num futuro são, onde cada um se sinta seguro da sua qualidade de elemento responsável, num trabalho conjunto que dignifique e seja eficiente, dentro das naturais limitações de cada um.
O amor ao próximo, a fraternidade, deve ser o esteio onde assentarão as relações entre os homens, pois sem ele nada poderá ser justo, nada poderá ser humano. Confiemos numa nova sociedade edificada sobre tão nobre alicerce, mas não fiquemos de braços caídos, porque ela tem de feita por todos nós.
(Maio 72)

Joaquim Carreira Tapadinhas - Montijo


8 comentários:

  1. Excelente reflexão Sr. Tapadinhas. Apenas discordo quando diz: "São apenas homens, nada mais". Diria antes que quanto mais o homem existir servindo, mais o é e se realiza como tal. E ser é tudo.

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    1. Obrigado por ter lido e interpretado a minha reflexão sobre a existência do homem. Eu elevo o homem à criação mais perfeita da natureza e quando digo que somos apenas homens, quero dizer que não nos devemos considerar "deuses". Um abraço fraternal.

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  2. Estou consigo, amigo Tapadinhas, bem como com todos os construtores do futuro.

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  3. Uma reflexão actual, muito bem dita, e utilizando com uma ligeira modificação o comentário do José Amaral ( espero que me perdoe), "bem como todos os Arquitectos do Universo"

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  4. Felizmente que, neste espaço, os que escrevem superam em número aqueles que não fazem mais que expelir arrotos...

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  5. Amigo Tapadinhas, só agora li a sua extraordinária reflexão. Extraordinária, e humanística. O meu duplo aplauso. Por um lado, pela nobreza, por outro, pela importância, pelo destaque, que dá ao colectivo. E isto, em 72, era perigoso! Excelente! Parabéns!

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