sexta-feira, 3 de novembro de 2017

A verdade à americana

Na habitual coluna da página dois do JN, preenchida por um membro da direcção, Vitor Santos, editor-executivo-adjunto escreve, sob o título em epígrafe, que “Os Estados Unidos deram ontem um passo atrás, na Asembleia Geral das Nações Unidas, ao votarem contra o fim do bloqueio a Cuba, que se mantém desde 1959.

Depois dos sinais de abertura oferecidos durante a presidência de Obama, este regresso ao passado é tudo menos surpreendente, apenas merecendo nota o facto de a actual administração nem sequer se preocupar em rever a natureza dos argumentos. Podia procurar torná-los, pelo menos, mais originais, pois estes tresandam a mofo.Votam contra, e votarão sempre, “enquanto o povo cubano estiver privado dos seus direitos”.

Esta continua a ser a argumentação, uma narrativa – certa ou errada, não é isso que está em causa – com mais de meio século, pensada num tempo em que o patriarca da Casa Branca vendia facilmente a imagem que queria, porque a comunicação era francamente mais difícil. A informação chega pelos mais diversos canais, os nossos jovens tem-na ao alcance dos dedos, e assim percebem com toda a facilidade que os Estados Unidos não se preocupam nem um bocadinho com os direitos dos povos, já que cultivam, noutros meridianos, boas relações com algumas das ditaduras mais obscenas do mundo.

O argumento de defender os direitos das pessoas, nesses casos, é esquecido em função de outro qualquer. E fica por isso mais fácil perceber que não é por gostar mito do povo cubano que a lei norte-americana prevê o bloqueio a Cuba.

Perante tão esfarrapada argumentação e com tanta informação disponível, como queremos, depois, alicerçados nesta cultura da mentira, manter as novas gerações mobilizadas para a política e para a participação cívica? Este não é o caminho, seguramente... Entendo que, nesta altura, o grande desafio dos responsáveis políticos devia ser o de credibilizar, de aproveitar para dar exemplos de verdade, pois é isto que todos esperam de alguém a quem se confia uma parte importante do futuro colectivo”.


Transcrito por Amândio G. Martins

2 comentários:

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