sexta-feira, 23 de março de 2018

Evolução ou confusão?

Agora não precisas de ligar o telefone para saber do teu amigo: manda uma mensagem e depois lê a resposta. Pronto está feito o contacto. É a evolução.
Alguém, choramingando, queixava-se, na paragem do autocarro, que o IRS tinha de ser feito naquelas máquinas que ela não tinha. E a sua família, não tem nenhum jovem que o faça? Ia consolando a acompanhante… E lá foram conversando sobre o problema da evolução dos tempos.
Felizmente as novas tecnologias têm trazido muitos avanços ao conhecimento e bem exploradas – por exemplo no plano da saúde – fazem renascer a esperança de que o sofrimento possa ser controlado e as nossas vidas se desenrolem em dias de calma e felicidade.
Mas aprofundando algumas noticias começamos a duvidar que o mundo esteja a evoluir no sentido de trazer mais felicidade aos povos que habitam o nosso planeta. Dizem que está muito próximo não ser necessários médicos para serem feitos os diagnósticos da saúde. Haverá um robot, ao qual nos vamos encostar, e a informação do que precisamos fazer é transmitida a outro maquinismo que nos aplicará a medicação necessária. 
Talvez sejam exageradas estas informações mas cada vez mais “tudo” é feito online e nem precisamos de ir à loja até para comprar uma camisola: olhamos através do ecrã do computador ou do smarphone carregamos numa série de botões e passados dias temos a camisola a bater-nos à porta. E se se ganhou no tempo da deslocação perdeu-se no convívio com a área comercial, na comparação com o outro modelo pendurado ao lado, no ouvir do tagarelar dos outros compradores e na troca de palavras com o trabalhador da caixa.
Quem diz uma camisola diz um livro: haverá coisa melhor do que entrar numa livraria, apalpar os livros que nos saltam aos olhos, pegar, olhar a capa e, não sendo o que procuramos deixamos alguns pensamentos que talvez haja mais tarde interesse em lá voltarmos.        
            E os jornais? Nos cafés cada vez mais pessoas tomam o café olhando a tal tablete – que não é de chocolate – e vão lendo as noticias do dia e do mundo. Mas haverá coisa que possa substituir a nossa passagem pela banca dos jornais da nossa rua, olharmos os títulos, trocarmos um bom dia com os vendedores e lá seguirmos até nos sentarmos a ler página a página, sublinhando muitas vezes aquela frase que não queremos esquecer. E os livros para as nossas crianças? Haverá maior alegria que ver uma criança desembrulhar o presente e olhando os desenhos irmos contando a história que ali está?
            Tanta coisa que a tal evolução está transformando o mundo. E a tal inteligência artificial está começando a dominar o mundo. É urgente aproveitar tudo o que de bom está aparecendo sem perder que a ligação às pessoas é fundamental para que a evolução não se transforme numa confusão sem coração.  

Maria Clotilde Moreira


1 comentário:

  1. um belo texto, uma reflexão sobre um dos temas mais atuais . Preocupa-me a ligação constante à internet, ao telemóvel... hoje recebi um elogio ...uma colega comentou « este telemóvel deve ser da Céu...» ( tenho um telemóvel de teclas - o ultrapassado Nokia).

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