A RASPADINHA E A OPERAÇÃO MARQUÊS
A raspadinha rendeu o ano passado, 1400 milhões de euros. Ou seja, 3,9 milhões por dia. Apesar das receitas, segundo o jornal I, terem descido 16% em relação a 2019.
Sabendo-se que a sua principal clientela são pessoas da classe média baixa e até mais desfavorecidas, e ainda por cima em tempos de pandemia, mesmo assim, é obra! Isto,num país em que quase 60% dos pobres, trabalha, que a grande maioria das pensões de reforma não chegam quase para mandar cantar um cego, e com toda a situação agravada com os devastadores efeitos da pandemia.
É este mesmo país que assistiu, perplexo, ao desenrolar da decisão instrutória sobre a Operação Marquês, em que o juiz Ivo Rosa, reduziu os alegados 189 crimes do processo para 17, e dos 31 atribuídos a José Sócrates por corrupção, a 6 por branqueamento de capitais e falsificação de documentos.
A última etapa deste caso que já dura há 7 anos, que tem feito correr rios de tinta e muitas horas de emissão nas rádios e televisões, que envolveu ainda muito mais milhões do que a raspadinha, foi a entrevista que o seu principal protagonista, o antigo primeiro ministro, deu à TVI no passado dia 14.
Os 40 minutos que durou, preencheu-os ele, quase na totalidade. Embora não respondendo diretamente às questões constantes no processo que José Alberto Carvalho lhe colocou, mas desmentindo-as, reformulando-as, e respondendo a si próprio.
Os principais temas focados, foram os empréstimos do seu amigo Carlos Santos Silva, a fortuna da sua família, nomeadamente da mãe, e as atuais relações com o seu antigo partido, o PS.
Quanto ao montante dos empréstimos que, como consta no processo, só nos meses de setembro e outubro de 2013, totalizaram 110 mil euros e na totalidade chegaram aos 993 mil, também houve desmentido, mas apenas parcial. Segundo o entrevistado, foram “apenas” 570 mil euros.
Afirmou que o seu avô fez fortuna no comércio de volfrâmio, como consta num almanaque que estava arquivado na Torre do Tombo e que até se ofereceu para o mostrar a José Alberto Carvalho, e que a sua mãe possuía 1 milhão de contos num cofre, fruto de três heranças de que tinha beneficiado. Não disse, nem o entrevistador lhe perguntou, porque preferiu recorrer ao amigo, e não à progenitora.
Em relação à afirmação do seu antigo camarada Fernando Medina, de que o seu comportamento corrompia a política, respondeu que ouviu com suficiente repugnância, mas que Medina é apenas um porta-voz da direção, da liderança, do PS.
Finalmente, dizer que todos estes crimes e a prescrição de tantos deles, são possíveis devido à lei que o permite, cujos principais responsáveis, são os partidos que a fizeram: PS, PSD e CDS. E o principal prejudicado é o povo. Grande parte dele, a fazer contas à vida, revoltado, vê na raspadinha uma possível boia de salvação. Mas depois, embora ainda mais desiludido, com seu voto ou abstendo-se, perpetua o tal sistema que tanta corrupção e vigarices permite beneficiando alguns, e prejudicando-o a ele.
Francisco Ramalho
Publicado ontem no jornal "O Setubalense"
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