UMA QUESTÃO DE DIGNIDADE E PATRIOTISMO
Longe de primar pela qualidade, a programação da televisão, mesmo a que mais obrigação tem de o fazer, a pública, no entanto, reconhecemos as exceções. Foi o caso da excelente reportagem que a RTP1 passou na noite do passado dia 15 intitulada “A Invasão da Agricultura Insustentável”, da autoria do jornalista Luís Henrique Pereira, imagem de Pedro Rothes e Carlos Pinota e grafismo de Miguel Castro. Parabéns, portanto, a estes profissionais e ao diretor de informação da estação, António José Teixeira.
Isto sim! É serviço público. Diremos mais,é serviço patriótico.
Já aqui tínhamos abordado este assunto, cuja gravidade, o título da reportagem diz tudo. Trata-se, concretamente, da exploração de culturas agrícolas em regime intensivo e superintensivo, agora já não só no Alentejo, mas como o apurado trabalho mostra, estenderam-se à região da Cova da Beira , Algarve e ao Oeste, Estremadura.
As terras, muitos milhares de hectares, foram/são alugadas ou vendidas a empresas, sobretudo estrangeiras, e destinam-se à produção de azeitona, amêndoa e uva. No litoral alentejano e no Algarve, também produtos hortícolas em estufas e frutas tropicais como o abacate, cuja planta, consome enormes quantidades de um bem que nos tempos que correm, consequência das alterações climáticas, precioso: a água.
Como se pode ver na reportagem(mantém-se on line), toda a vegetação e arvoredo tradicional é arrancado e as novas plantações, para além da muita água que consomem, são tratadas com doses industriais de fertilizantes e pesticidas com vista às maiores produções possíveis.
Os efeitos são devastadores para as outras plantas, para a fauna, para a água do subsolo e de superfície e para os solos que ficam contaminados e mais tarde, esgotados.
Portanto, para estes novos “agricultores”, o que está em causa é pura e simplesmente o lucro. Depois, quando os solos estiverem esgotados e as suas contas bancárias bem recheadas, vão embora, e nós ficamos com um país parcialmente improdutivo, contaminado, desértico.
Outro aspecto imoral, são as miseráveis condições de vida da grande maioria dos trabalhadores contratados, emigrantes de países asiáticos.
Para além da generalidade das organizações ecologistas que se opõem a este crime de lesa-pátria, há muito que o PCP, o PEV e ultimamente o PAN, têm confrontado o Governo na AR sobre esta matéria. O PS e a direita, dão-lhe suporte.
Ouvido o Sr. Ministro do Ambiente, diz que tais culturas ocupam apenas 1/5 das terras com aptidão agrícola do Alentejo. Mas elas,como mostra a reportagem, já se estendem à Beira Baixa ao Algarve e à Estremadura. E mesmo que fosse “apenas” como diz Matos Fernandes, já seriam muitos milhares de hectares. Plantações a perder de vista.
Trata-se de um atentado ecológico que não diz apenas respeito aos habitantes das referidas regiões, mas a todos os portugueses.
A preservação do meio ambiente, da agricultura sustentável, do futuro de Portugal, é também uma questão de dignidade e patriotismo.
Francisco Ramalho
Publicado terça, 27/04, no jornal "O Setubalense"
Esse tal do Ministro do Ambiente, é de uma incompetência confrangedora. Aqui há uns 4 ou 5 anos foram muito discutidas na imprensa escrita e falada, aquelas declarações dele, em que ameaçou mandar abater tudo o que eram construções em cima das praias. Nada aconteceu, antes pelo contrário. Por exemplo: depois de passada a polémica, foi construído um bar-restaurante dentro do areal em Vila Chã (Vila do Conde), entre as praias da Congreira e da Laderça. Não se trata de uma construção daquelas que se desmontam no final da época balnear, não. É mesmo fixa.
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