Há poucos meses, era comum pensar-se que a esquerda
portuguesa não tinha o pragmatismo necessário a entendimentos governativos. As
ciumeiras existentes entre os diversos partidos e o sentimento de posse da
verdade “única” empunhado por cada um prejudicavam os diálogos, tendo-se enraizado
a ideia de que nunca seriam capazes do menor acordo. Entrementes, a direita,
proprietária “natural” do pragmatismo, usou-o a seu bel-prazer, sem os nojos da
miscigenação, desde que lhe cheirasse a Poder. A antiga tese do arco da
governabilidade parecia sólida, tanto como a do Fukuyama sobre o fim da
História. Mas a vida encarregou-se de demonstrar que, em política, tudo é
possível, uma vez que ela própria é a arte do (im)possível. E então, as coisas
mudaram, as surpresas “cataduparam-se”. Os primeiros surpreendidos foram os
partidos da direita, sobretudo o PSD, que, valha verdade, anda há meses a tentar compreender o que se
passa, à espera de consertar a realidade, que saiu do trilho. Daí que a sua estratégia
passe toda pelo “desfazer da feira” das esquerdas: “eles” não se entendem nem
nunca vão entender, “eles” vão-se atraiçoar uns aos outros, “eles” vão partir
tudo e, depois, cá estaremos “nós” para colar os cacos, a rogo do Povo. Mesmo
que tudo isso venha a acontecer, parece-me pouco para uma estratégia de reconquista
da governação, mas Passos Coelho é que sabe. Não será capaz de um pouquinho melhor?
Este blogue foi criado em Janeiro de 2013, com o objectivo de reunir o maior número possível de leitores-escritores de cartas para jornais (cidadãos que enviam as suas cartas para os diferentes Espaços do Leitor). Ao visitante deste blogue, ainda não credenciado, que pretenda publicar aqui os seus textos, convidamo-lo a manifestar essa vontade em e-mail para: rodriguess.vozdagirafa@gmail.com. A resposta será rápida.
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