Sempre que morre alguém com notoriedade, ou até sem ser por aí além, mas
que deu nas vistas numa ou noutra coisa mais ou menos controversa, ou singular,
e enquanto nessa função deu a "mamar" aos amigos algum ouro, ou dele
tiraram protagonismo e proveito, aparecem logo oriundos dessa banda, uns outros
a lamentar tal morte, com elogios bem badalados, do género - "com o seu desaparecimento,
o mundo fica mais pobre". Esta frase que me anda aqui no ouvido a
incomodar faz tempo, e que já não de lá sai, nem com cotonete embebida em
bagaço forte, tem-me feito reflectir sobre o valor da pessoa que partiu e o que
fez com brilhantismo em vida, e do daquele que profere tal frase feita saída da
boca, que de outro berço ou alma seria difícil, quando interrogado por um meio
de propaganda social, à entrada ou à saída do luto florido que o cangalheiro
encenou com pompa. E a frase tem razão de ser, certamente. Se o gentio que
feneceu era poderoso e tinha influência, conseguindo por sua actuação mexer os
cordelinhos na área que dominava e com isso se enchia de importância, mais o
parceiro oportuno, que disso tirava proveito, este "mamão" não tem
mais do que tecer loas ao falecido e gabar-lhe a obra deixada ou mal explicada,
e todos os dotes que com ele se foram, e que a partir de agora deixaram de
contar para a soma do já arrecadado. Pelo contrário, se aquele que morre, não
tinha aonde cair morto, anónimo como enquanto espermatozóide, sobre ele não se
ouvirá uma frase feita ou por fazer, excepto, o adivinharmos que alguém largue
uma lágrima por ele na hora do adeus e por dentro do escuro da tristeza. E
mesmo isto não é certo. Sendo assim, não custa aceitar que a morte de alguns
tornam o mundo mais pobre, e com a morte de outros, a maioria, o mundo fica
mais rico. Eu esclareço. Se por exemplo morre um vigarista, que fez fortuna à
custa de golpes e trapaças, mas com essa prática encheu ainda os bolsos do
núcleo de amigos, estes lamentam a sua morte pois o seu apagamento é ao mesmo
tempo a morte da riqueza que ele gerava e dele sobrava, e fazia a alegria e as
delícias dos comparsas.
Mas se morre um pobre, não há nada para esperar, e
muito menos a herdar, por isso a lamentar. Como é pobre e banal, tal “como uma frase batida”, que riqueza
perde o mundo com o seu fenecimento? Se assim é, conclui-se que o mundo ficará
sempre menos pobre se só morrerem os indigentes, sem vintém, e sem qualquer
interferência nos "tachos" que há para arrebanhar e distribuir pelos
amigos, e que só estão sob tutela e à guarda da legião a que pertencia o vilão
muito considerado e agora velado. No exemplo que perseguimos, podemos também
concluir, que, embora os ricos e personalidades tais como banqueiros
criminosos, dirigentes de organismos desportivos criminosos, políticos de
vários graus com cargos de chefia que cometem fraudes, administrativos
corruptos ao serviço da causa pública, em mar, no ar e em terra, etc. quando
morrem, têm sempre algum personagem ou até um bando deles a vir a terreiro,
discursar, bater palmas, ainda o cadáver não arrefeceu, a tecer-lhe os maiores
encómios, loas, elogios, enaltecimentos, proezas, heroicidades que em nenhum cartapácio
cívico está descrito, mas que eles sabem ser fundamental entoar para limpar
alguma suspeita e lixo que se tenha pegado ao defunto de renome sem saída limpa.
Quer isto dizer que sempre que se prende ou morre um destes figurões, surge ou
é imediatamente eleito outro, que lhe segue o percurso e o imita na acção. Aqui
está a solução abreviada, para que o mundo nunca fique mais pobre. Pelo
contrário, temos a garantia que com estes substitutos e oradores com dotes
demonstrados em congressos, reuniões de negócios à porta fechada, assembleias
aonde se elegem piratas, ou se confirmam lideranças, o mundo ficará sempre mais
rico. Pobres para que vos quero, se em vós só vejo braços para me servirem,
agitando bandeiras e enquanto colam cartazes?
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