terça-feira, 28 de maio de 2019

A PODRIDÃO E O DIVINO

"Vivem entre gorilas espirituais, vivem com maníacos do comer e do beber, escravos do êxito, inovadores de engenhocas, cães de caça da publicidade." (Henry Miller, "O Pesadelo de Ar Condicionado")
Como pode uma alma sensível viver e criar numa sociedade cada vez mais marcada pelo utilitarismo, pelo produtivismo e pelo consumismo norte-americanos? Como pode alguém sensível manter-se mentalmente são? Como pode um jovem seguir um percurso pleno na arte num mundo de broncos e chacais? Realmente, como diz Miller, "os pobres não conseguem pensar em nada a não ser na comida e nos problemas da renda". As classes médias sabem que o verdadeiro inimigo não é o capitalista nem o banqueiro que bajulam mas os poucos artistas rebeldes que denunciam com palavras ou tinta a podridão do sistema. Sim, ainda há uns quantos que resistem. Mas esses tiveram que resistir a muitas provações. Desde a infância que lhes pregam a cantiga do dinheiro e do ganhar a vida. Desde cedo que os tentaram convencer que eram eles os desajustados e que, por isso, se sentiam sós e infelizes. Os próprios colegas de escola se encarregam disso. Muitos caem. Outros morrem para sempre nesta selva. No entanto, pode haver um amigo, um colega, um professor, um livro, uma canção que altere tudo. E então descobrimos que estamos no caminho da Vida e da Sabedoria. E então descobrimos que somos mais fortes do que os papões do capitalismo. Porque nós vimos de lugares benditos, porque nós vimos dos céus, do Eterno, do Infinito. E por isso não há muros que nos travem. E por isso somos abençoados. E por isso somos divinos.

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