Os niilistas...
“No decurso da história houve sempre dois tipos de homens,
de cultura, de mentalidade: os construtores e os destruidores. Quem lavrava o
terreno, semeava-o, fazia a colheita, e os salteadores que chegavam para
saquear. Os construtores das cidades e os nómadas que irrompiam das pradarias,
ávidos e sanguinários.
Na Idade Média havia indivíduos e grupos que odiavam o
bem-estar das grandes cidades mercantis como Veneza e Florença e teriam feito
uma fogueira com as obras de arte. Era a mentalidade de Savonarola, de muitos
inquisidores, que viam por toda a parte mal, artes demoníacas, corrupção,
impureza.
No século dezanove Nietzsche identificou-os bem e
chamou-lhes niilistas, do latim nihil, nada. Não por nada quererem, mas sim por
não quererem que as coisas existam. Cheios de ressentimento, de rancor, são contra
tudo o que funciona bem, o que é são, alegre, triunfante. Encontramo-los tanto
à direita como à esquerda, entre os católicos, como entre os laicos, porque a
sua mentalidade é estarem contra, poderem agarrar, destruír.Os niilistas da
direita eram anti-semitas porque os judeus eram inteligentes, ricos e tinham
êxito. Os niilistas da esquerda eram contra o capitalismo porque este produzia
riqueza, abundância, bem-estar.
O niilista sente-se mal quando vê alguém satisfeito,
contente, em paz. Adora o conflito, a guerra, a destruição. Tem prazer em
pensar que a sociedade em que vive está em crise, à beira da catástrofe. Está
sempre do lado dos seus inimigos, sejam eles quais forem.
A mentalidade destruidora, niilista, encontra-se no interior
de todas as formações políticas, porque é uma forma de pensar.Tentem comparar
atentamente os diversos comentadores. Os niilistas são aqueles que são
incapazes de fazer um juízo positivo, de um elogio, de uma proposta
construtiva. Mordem, ladram, indignam-se, exaltam-se na sua ferocidade. É nas
revoluções, nos regimes totalitários, nas guerras, que as pessoas deste tipo
têm as profissões que lhes são mais apropriadas. Na Igreja, o perseguidor e
torturador dos hereges e das bruxas, durante o fascismo o espião da Ovra, na
URRS o comissário político, que perseguia os dissidentes e os mandava para os
campos de concentração.
Muitos dedicam-se à delinquência ou estão relacionados com
ela. Outros encontram uma colunazinha num jornal onde atacam sadicamente
escritores, intelectuais, artistas. Há alguns críticos deste género que destroem
com as suas palavras, com os seus textos, qualquer obra que caia nas suas mãos.
E quanto mais o outro tem valor, mais lhe batem, o insultam, o difamam.
Podem encontrar niilistas no vosso próprio ambiente, entre
os vossos colegas, entre os vossos familiares, entre os vossos falsos amigos. O
que os une é a mais total falta de respeito pelo vosso trabalho , por aquilo
que construíram com muita dedicação. Eles varrem tudo com uma só palavra, de
uma penada. E são felizes vendo-vos sofrer”.
Nota - Transcrito do livro anexo por Amândio G. Martins
Excelente reflexão!
ResponderEliminarMais um livro a ler !