Manias e vícios alimentares...
A minha sobrinha Marta, filha de mãe lisboeta e pai minhoto,
mas ela mesma “alfacinha de gema”, adorava passar parte das férias no Norte, em
minha casa com os primos, durante os primeiros anos de adolescentes; da
primeira vez, e nos primeiros dias, passou um mau bocado porque vinha cheia de
manias com a comida, não gostava disto, não gostava daquilo, tão “estragada”
estava por ter sido criada quase só pelos avós, que faziam à menina todas as
vontades, com ambos os pais empregados.
Só que a minha mulher, que não tinha a mínima pachorra para
aturar manias à mesa, depressa lhe fez ver que se não comesse do que era
servido para todos, então teríamos de a mandar de volta para casa, pois ali não
havia comida especial para satisfazer “apetites” particulares; essa firmeza e
ver a todos comer sem reclamar foi “remédio santo”.
Terminadas as férias e regressada a casa, a mãe quase não
reconhecia a miúda que, além do “sotaque” que dizia ter apanhado, já não
reclamava nada, querendo saber o que tínhamos feito com ela, que lha tínhamos
devolvido muito mais mansa; claro que, nos anos seguintes, já não se pôs tal
problema.
Vem isto a propósito do que se diz no JN acerca da
obesidade, com a qual os afectados gastam fortunas, tendo a venda de fármacos
específicos crescido exponencialmente e lamentando-se que tais medicamentos não
sejam comparticipados, quer dizer, que todos pagássemos o mau comportamento de
alguns.
É que tirando aqueles casos genéticos e psicossomáticos, a
maioria desses problemas deve-se a erros alimentares perefeitamente evitáveis,
como gulodice, ignorância na confecção dos alimentos, quer por laxismo na
educação das crianças, a quem é dado a comer todo o tipo de lixo alimentar, só
porque é o que elas exigem e mais gostam...
Amândio G. Martins
Posso enviar os meus doentes ( e respectivos pais !) para fazer uns estágios em sua casa? 🙂
ResponderEliminarÉ que Todas as semanas encontro crianças cada vez mais doentes ( a obesidade é uma doença que os portadores e os adultos não valorizam! ) é só ouço barbaridades que o último parágrafo do seu texto resumem na perfeição !
... e porque lhes é "oferecido" a toda a hora e em todo o lugar....É o "sistema"!...
ResponderEliminarNa generalidade, não posso estar mais de acordo com o seu texto. Passando à especialidade, há um ponto que eu não votaria a favor. Uma ligeira referência, ténue e não totalmente expressa (apenas “sussurrada”), de que o SNS deveria ser retirado, em parte ou no todo, aos doentes por erros comportamentais. Às vezes, é assim que se começa com a implantação e divulgação de ideias que podem desembocar em mais totalitarismos.
ResponderEliminarDeclaração de interesses: sou fumador. Na sequência de um erro comportamental que, no “meu tempo”, atingiu tantos de nós. Não é desculpa, mas, como diria o Fernando Rodrigues, na altura era o “sistema”.
Digo ainda que não gostaria de viver numa sociedade em que a eugenia tivesse sido imposta. Nela, tudo seria muito saudável… excepto a própria sociedade.
Uau! É sempre bom um contraponto, bem oportuno!
EliminarMas o SNS tem consultas hospitalares de referência quer para obesidade, quer para ajudar os fumadores. Até em alguns centros de saúde há consultas para os fumadores !
EliminarEssa de postura de “ se pôr de fora “ é das seguradoras e dos sistemas que se baseiam em seguros ...
Mas também é do conhecimento geral que é mais fácil ( e muito mais barato!) prevenir do que tratar ...
Toda a razão para a Lúcia neste ponto. O que eu referia, no que ao comentário do José diz respeito ( e o comentário dele era muito mais sobre "sociedades utópicas"....) era também sobre "assépsia" social.
EliminarEntre haver medidas de informação / prevenção sobre comportamentos prejudiciais à saúde ( nomeadamente espaços livres de fumo, porque prejudicam não só o próprio como os outros ) e “ assepsia social “ vai um intervalo relativamente amplo que eu chamaria de bom senso, liberdade individual e escolhas INFORMADAS . Considero, por exemplo a “ lei do croquete “ como eu lhe chamo, de proibir certos alimentos nos bares hospitalares portugueses um rematado disparate!
EliminarA minha visão de “ sociedade utópica “ não é nada assim - já sei que o Dr. Fernando Rodrigues tem uma “ alergia” à palavra utopia, parece-me que por lhe atribuir uma carga negativa . Utopia para mim é uma “ tendência “ , uma busca de melhoria constante , respeitando os direitos individuais e colectivos da humanidade...
Isto de nos metermos a discutir - com médicos - temas ligados à Medicina dá nisto. Mas fico contente, porque resultou numa bela polémica. E não tenho argumentos - nem quero tê-los - para discordar da Lúcia e do Fernando. Entre utopias e assepsias, deixem-me ir vivendo, contribuindo para e consumindo do SNS (hoje, uma realidade gloriosa, mas antes, uma “utopia” inatingível) sem me obrigarem a comportamentos violadores da minha personalidade. Que, obviamente, está longe de ser perfeita, e que, dentro do possível, procura corrigir-se.
ResponderEliminarA conversa já vai longa e, metodologicamente, é até um pouco "feio" vir aqui quando o Amândio já lhe pôs "fim". Mas, pedindo desculpa, deixem-me reafirmar ao José que não estou tão em desacordo com ele pois prefiro SEMPRE uma sociedade humana imperfeita a uma "perfeição", felizmente..."utópica". Coisa que o SNS nunca foi, também felizmente. Ficaria "entalado" se não o reafirmasse. Foi um prazer debater convosco.
EliminarObrigado a todos pelo contributo; quanto ao "pedido" da Drª Lúcia, desconfio que, se atendê-lo fosse viável, os papás nunca aceitariam tal "crueldade" com as criancinhas, coitadinhas...
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