sábado, 27 de maio de 2017

A POLÍTICA DOS 3 FFFs



Os que como eu são do tempo de Salazar, lembram-se bem que a oposição costumava atacar a sua política denominando-a a política dos 3 FFFs. Como se o ditador quisesse criar uma cortina de fumo sobre a falta de democracia, política colonial desalinhada com a ONU, etc. Era uma crítica mordaz, reduzindo o Estado Novo ao FADO, FUTEBOL e FÁTIMA. É assim pelo menos caricato, que nestes 43 anos de democracia, os novos dirigentes tenham usado e abusado dos 3 FFFs. Nunca como agora o Futebol foi tão avassalador. Depois de qualquer desafio, é penoso, mesmo para os que apreciam futebol como eu, ver todas as TVs e rádios cheias das mesmíssimas entrevistas e debates, em que tudo é discutido á saciedade do mais ínfimo detalhe. O Fado, esse infelizmente (tal como o bom teatro de revista), nunca mais teve a projecção de outrora. Mas os novos dirigentes democratas não hesitaram em levar a Amália Rodrigues para o panteão nacional, coisa que deveria fazer arrepiar o ditador se fosse vivo. Quando há precisamente 50 anos Paulo VI esteve em Fátima, o católico Salazar não “andou com ele ao colo”, como agora fizeram Marcelo e o agnóstico Costa. Acho que tanto o PR como o PM estiveram bem, e esta minha irónica crónica apenas quer salientar que afinal, afinal, os novos dirigentes deste 43 anos, na política dos 3 FFFs apenas em 13 de Maio passado foi ligeiramente diferente. É que em vez de FFF, foi FFSS, sendo o SS não de Segurança Social (bem precisa seria), mas de Salvador Sobral. Nesse dia, o PM Costa voou de Fátima para o estádio da Luz, e antes da meia noite já saudava o jovem vencedor da Eurovisão. É obra!
OBS. Publicado no EXPRESSO na sua edição de 20/5/17.

14 comentários:

  1. O que este artigo exprime é uma verdade "suprema". As actuações dos políticos, em todas as épocas, dançam conforme as músicas. Longe de mim de concordar com a política portuguesa que dominou Portugal no tempo de Salazar, mas não esquecer que nos anos 30 e 40, do século passado, as ditaduras estavam também implantadas na Rússia, na Itália, na Alemanha e na Espanha, para além de outros pequenos países que não tinham nada a ver com democracia. Depois da 2.ª Grande Guerra, a União Soviética alargou os seus tentáculos e os países satélites passaram todos a ditadura. Felizmente que o sistema democrática foi-se implantando, mas muitos problemas, especialmente na distribuição de riqueza não foram suficientemente resolvidos. Daí, futebol, canções e religião, serem condimentos com que os governos se servem para administrar a nação. A verdade, embora muitas vezes esteja escondida atrás de véus, acaba por vir ao de cima. Um abraço à "rapaziada" que, a seu modo, luta por um Portugal melhor.

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    1. Joaquim, o único que me compreende e aceita, aqui neste nosso blog. Bem Haja por isso. Abraço forte.

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  2. Não serei tão pessimista como vós. O Fado já não é (o) "fado". O futebol melhorou no campo e a parte que piorou foi a tecnológica e comunicacional. Fátima continua ser Fátima ( as religiões são "sempiternas") mas, mesmo assim... Francisco não é Paulo VI e muito menos PioXII... E as aparições já se chamam visões ( às vezes é nas palavras que as coisas começam a mudar, embora também... para ficar tudo na mesma...)... E depois, o 25 de Abril acabou com uma DITADURA e iniciou uma DEMOCRACIA... isso é que é!

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  3. Caro Amigo Fernando, pessoa que conheci no 4.º Encontro, que gostei de conhecer e continuo a admirar. - Ninguém pretende correr na estrada do perfeccionismo e, por isso, percebe-se, logo de início, que nem a sociedade está parada, nem é possível exigir aos que viveram outras épocas que possam ter a informação e preparação dos que actualmente analisam o passado e a criaticam. Naturalmente que o fado (canção), Fátima (religião), e futebol (estruturas e interesses colossais), são completamente diferentes do que existia há 50 anos, por isso as armas que nos servimos para criticar são logicamente diferentes, porque os produtos são quase os mesmos, mas as raízes não se alteraram. Contudo, o mundo só existe porque existe vida e porque está em transformação permanente.

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    1. Comentário sábio, como sempre. Permito-me só acrescentar que sendo evidente que os 3 FFFs são hoje muito diversos, em qualidade, do que foram há 50 anos, mas a raiz e estrutura do meu artigo mantém-se. Gozavam e desprezavam Salazar reduzindo a sua política aos 3 FFFs. Mas no fundo, os "democratas" nestes 40 anos, continuam a fazer o mesmo. Encher o povo com os 3 FFFS, para ele não se preocupar com a dívida, com os ratings de "lixo", com o desemprego e a pobreza, para não me alongar muito.

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    2. Temos pontos de vista diferentes, mas não é trágico. Em relação ao Salazar, fossem os 3"efes" o seu maior mal! E olhe, ninguém gozava com ele! Desprezá-lo sim, havia muitos mais do que ele próprio pensava.
      Agora deixe-me brincar um pouco consigo (palavra de honra!): onde foi buscar aquela "calimérica" coisa de só Joaquim o "compreender e aceitar"? Mais uma vez, desculpe mas não resisti a fazer a pergunta. Boa noite para si e Joaquim!

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  4. O companheiro Manuel Alentejano está muito enganado quando pensa que apenas é compreendido por Joaquim Tapadinhas. Concordo com o teor das cartas de sua autoria mas optei por não comentar pois sendo eu uma “persona non grata” neste blogue, e já agora para alguns que me lêem na imprensa que me divulga - o que também contribui para isso, sempre pensei que o meu apoio seria contraproducente para si. Por isso, fica desde já a saber que estou ansioso pela sua próxima carta.

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  5. Sr. FR, eu apenas partilhei um estado de alma, resultante das reacções/comentários dos restantes escritores de jornais aos meus artigos. Basta consultar, porque da minha memória ainda não me queixo.

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  6. Sr. JM, não me diga que também é "politicamente incorrecto" e contra a actual "situação". É que tal como no tempo de Salazar, hoje ou somos da "situação" ou estamos tramados...

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  7. Antes de mais vou, mais uma vez, pedir desculpa por me dirigir a todos somente pelo nome próprio, sem mais. Acredito que, num blogue, onde nos "encontramos" por diversas vezes, faz todo o sentido uma certa informalidade. Talvez esteja errado e, aqueles que assim o acharem, que mo digam pois pararei imediatamente com essa forma de tratamento.
    Dito isto, confesso que não percebo o que o Manuel e o Jorge dizem de si mesmos. Incompreendidos? "Persona non grata"? "Politicamente incorrectos"? Pensarem-se contraprudecentes para outros? "Tramados" (como no tempo do Salazar)? Afirmem, debatam e... pronto! Aliás, daquilo que me é dado ler do escrito por vós, seriam as últimas pessoas de quem esperava ouvir aqueles "lamentos" que no fundo são afirmações da própria importância que se dão.
    Olhem, por mim, que comento e escrevo, excepto na discordância (convosco é muita, todos o sabemos) ou concordância, ou simplesmente na explanação de pensamentos e ideias vou continuar (ou não) a intervir educadamente sem pensar em nada mais que expor o que penso, sem empolamentos mas também sem pedir licença.

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    1. No tempo de Salazar, tanto eu como a grande maioria seriam duma maneira geral do abrangente “contra”. Depois, penso que com mais experiência de política, o povo (algum) abriu os olhos e mudou de opinião. E antes que me diga que o concurso “os Grandes Portugueses” não tem valor, terá sempre mais que a sua opinião quando diz ” desprezá-lo sim, havia muitos mais do que ele próprio pensava”, Salazar venceu com enorme vantagem e não estanhei que Cunhal tivesse ficado no lugar seguinte. Afinal o povo não é tão estúpido como alguns iluminados pensam. Quanto à discordância “convosco é muita”, não pense que me inferioriza pois quando me lembro de ter conhecido dois tipos da Legião que logo no dia 26 passaram a ser de esquerda, só peço para que se mantenham nesse lado da barricada. Mas tudo isto não será para estranhar pois até o revolucionário Otelo era instrutor da Legião, há fotos a chorar o funeral do Salazar e também diz o que diz do governo PSD/CDS. Tuto isto para lhe dizer que há de tudo em todos os lados.

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  8. Sr. FR, li e tomei nota. Sabe, tudo tem a ver com a arrogância intelectual de quem se diz de esquerda, neste País e em muitos outros. Se nunca sentiu, não pode entender. Eu já fui de esquerda, e os "acontecimentos" de 1975 mudaram-me 180 graus. Que lhe posso dizer mais, do que não valerá a pena trocarmos mais opiniões ou conversas? Será pura perda de tempo. Mas ainda bem que conseguimos manter um registo civilizado e educado, coisa rara nos meus diálogos com essa esquerda. Descambam sempre para o insulto dos que não pensam como eles.

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    1. Grato por me responder, Sr. Manuel Martins. Bom domingo para si!

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