A memória
que tenho de minha mãe, falecida há já quinze anos, é a melhor que um filho
pode ter. Mas não porque tenha estado sempre de acordo comigo.
Algumas das
coisas que me aborreciam no seu discurso eram o “porque não”, o “porque sim” e
o “acabou a conversa”. Não sei se por não querer aborrecer-se “descendo” ao
filho, se por falta de argumentos ou razão, quando lhe convinha, arrumava-me
com o final da conversa decretado do cimo da sua autoridade maternal.
O amor que
sempre lhe tive – e tenho – nunca me permitiu levar-lhe a mal a recusa de
regras que, para mim, eram cristalinamente estabelecidas: se tinha razão, não
deveria convencer-me do meu erro e fazer valer as suas próprias opiniões?
Bem sei que
a minha mãe nunca foi participante de qualquer espaço de discussão como, por
exemplo, a Voz da Girafa, sítio em que teria de alijar todas as autoridades
discricionárias - maternais, intelectuais ou outras - sobre os restantes.
Pessoalmente, não tenho de lhe perdoar a sua postura comigo e até compreendo a
posição que assumia quando de mim divergia. O mesmo não diria eu na sua
eventual posição de escritora-leitora de cartas para os jornais, que nunca o foi. Aliás, penso
que se se tivesse metido nestas “andanças”, não necessitaria que lhe lembrassem
de que expor aqui as suas opiniões acarretaria não apenas as loas de quem com
ela concordasse como, evidentemente, os remoques de quem não partilhasse o seu
pensamento. E cara alegre!
Neste passo,
ocorre referir que haverá quem esteja a pensar a que vem tudo isto. Haverá
também quem me acuse de estar a mandar “indirectas”. Desiludam-se, que, para
bons entendedores, são mesmo “directas”. Já, como no Brasil.
E venham as
críticas. A todas responderei, menos às insultuosas.
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