Este país
tem mais leis do que as necessárias, que são propositadamente entendidas e
usadas como arbitrariedades pelos amigos dos amigos que têm os poderes na mão.
É um país
cuja riqueza da língua – normalizada ridiculamente nalguns casos – aceita toda
e mais alguma interpretação dessas leis, como convêm, não como devia convir ao
colectivo.
O labirinto
é tão denso, sombroso, que qualquer cidadão incauto porque desconhece a lei a
que é obrigado conhecer, e sem imunidade sonante a apoiar-lhe o traseiro,
asfixia em poucos minutos nos códigos e regimentos e processos e adendas e o
que seja.
São os
artigos que revogam outros, não interessa; os decretos que subsituem outros que
entretanto se mantêm transitoriamente valendo ambos, e vão ficando ambos, até o
sempre; são as alíneas que corrigem os pontos, que acrescentam e subtraem os pontos e vírgulas….
Tudo é
possível, acontece, é justificado com a maior das seriedades em conferências de
imprensa, nos almoços e jantares com jornalistas, e passado cá para fora não se
sabe nunca por quem, e no final tudo se publica no Diário da República.
A Bem da
Nação.
Os de fora
adoram-nos porque estão cá de passagem e não têm tempo suficiente para nos
conhecer. O país está na moda porque a bacia do mediterrâneo é um local de
banhos perigoso, as praias estão mal vigiadas, morre-se afogado; os destinos
exóticos deixaram de o ser e há fundamentalistas que afugentam a malta do
bikini e dos shorts de marca; o Brasil só se for com guarda costas brasileiros
e está caro.
O país não
está na moda porque cuida e apresenta com esmero as suas riquezas humanas e
materiais, pelo contrário, usa-as, também arbitrariamente como as leis. Está na
moda porque sem fazer nada por isso caiu essa sorte nas mãos.
Os
Jerónimos, a Torre de Belém, os Clérigos, o Convento de Cristo, são monumentos
que gostaríamos de preservar, não é por nada em especial, só porque são a nossa
história. Alugam-se por bons dinheiros e quem faz as festas e não manda a
seguir a mulher da limpeza. Fecham-nos só para visitas particulares a vedetas
do show-bizz, e nós queremos visitá-los de vez em quando - coisas
nostálgicas nossas! - e estamos três horas na bicha a levar com convites
obscenos para city-tours de trotinete
com um nome ridículo.
Os presidentes
da Câmara mandam aparelhar a caleche e prestam visitas a “princesas” poderosas
mas ainda assim muito pindéricas, que pernoitam nos hotéis de luxo da cidade e
com isto ficam sem tempo para responder a uma pergunta simples de um cidadão
que quis saber do andamento das obras do viaduto que entretanto já reabriu, mas
não parece nada bem de aspecto, continua pálido.
No tempo de
terem partido três autocarros, partiu um e o condutor ainda quis bater nos
utentes porque queriam ir para os seus destinos a horas, mas esta cidade é tão
linda que não se pode saber de horas: é andar por aí, flanando, o tempo que
seja, que nesta cidade o tempo é um espartilho da liberdade. O tanas!
O que
interessam os transportes públicos quando os táxis são baratos e optimizam os
percursos a bem do cliente? e quando em alternativa se tem essas bicicletas com
nome ridículo?
Pronto,
desabafou-se, neste caso atirando aleatoriamente, porque se se seguia um
plano, escrevia-se um testamento sem garantias de haver fim.
Parafraseando
um humorista de radio (onde andam eles?), passem como puderem e não chateiem
muito os senhores, eles precisam trabalhar.
Uma reflexão muito a propósito sobre o "estado da nação". Na verdade a coisa vai andando, mais por força do destino, que das capacidades exercidas por quem dirige. É preciso analisar profundo e não superficialmente como fazem muitos comentadores mentecaptos de serviço, que são exactamente comentadores pagos porque servem o estado ilusório do país, que serve para adormecer quem não se esforça por aprofundar a situação. Contudo, quando acordarem, afundar-se-ão num mar de lágrimas.
ResponderEliminar